quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Tempus Fugit - Capítulo 1.2.2.2

Milhões de gigantescos escaravelhos com cabeças humanas! O pavor atingiu o seu máximo expoente quando o bando iniciou um vertiginoso vôo picado na sua direcção e conseguiu perceber que todos tinham a cara do Helmut Kohl!

Correu o mais depressa que podia, mas os seus perseguidores aproximavam-se. Um suspiro de semi-alívio surgiu das suas entranhas ao avistar ao longe o que parecia ser uma arma anti-aérea. Estranhamente conveniente, conseguiu ainda pensar enquando reuniu as suas últimas forças para um disparo final na corrida em direcção ao aparelho. O enorme reservatório acoplado ao engenho ter-lhe-ia provocado um sorriso, não estivesse a lutar pela sua vida. Quase não conseguia acreditar na sua sorte! Era um projector de coelhos, a arma conhecida mais eficaz contra escaravelhos gigantes, e parecia carregada.

Com um pulo quase felino sentou-se no engenho e apontou para o enxame. Apertou o gatilho e soltou instintivamente uma gargalhada quando os coelhos, projectados de rajada a alta velocidade e com um ritmo alucinante, começaram a atingir os escaravelhos. Embora não tenha conseguido atingir muitos dos seus atacantes - devido à fraca aerodinâmica do coelho, a precisão era um dos pontos fracos desta fascinante peça de artilharia - o factor surpresa foi fundamental. Os escaravelhos, claramente desorientados, começaram a perder o seu ímpeto e acabaram por dispersar.

Rejubilou. Torrentes de adrenalina ainda corriam nas suas veias e demorou até conseguir acalmar-se e parar de tremer. No entanto, a calma não durou muito tempo e a adrenalina voltou a subir ao avistar uma nuvem negra a formar-se no horizonte. Os escaravelhos reorganizaram-se e estavam de volta para uma segunda investida. Mais, vinham melhor preparados, munidos de envelhecidas sandes de carne enlatada, capazes de levar à náusea o mais bravo.

Assim que se apercebeu da nova ameaça, avaliou a sua situação numa fracção de segundo. O reservatório de coelhos estava a menos de um quarto e o ambiente iria ficar insuportavelmente nauseabundo, só lhe restava procurar abrigo. No segundo seguinte já estava novamente em marcha a alta velocidade, mas os escaravelhos eram muito mais rápidos e facilmente ganharam terreno. Todas as casas estavam em ruínas e certamente não aguentariam o ataque, mas conseguia ver por detrás das casas, uma enorme torre amarela que curiosamente parecia ter o formato de um colossal e hirto dedo médio. Correu para lá, mas o enxame estava já perigosamente perto.

Por uma infeliz fatalidade do destino, ou pela teoria do caos, como talvez alguns defendessem, quando o seu pé direito estava prestes a atravessar a arcada que anunciava a segurança, a força de Coriolis afectou a gravidade inversa exactamente da forma necessária para maximizar a inércia de uma sandes de carne enlatada, largada pelo escaravelho que se deslocava na linha que formava um ângulo de trinta e sete graus com a linha da sua trajectória, fazendo com que esta o atingisse na nuca com uma força tal que, violentamente projectado para a frente, aterrou atordoado de cabeça no chão.

Rapidamente surgiram dois pares de esqueléticas mãos com membranas interdigitais que o agarraram pela roupa e o puxaram mais para dentro. Não tinha ainda recuperado da desorientação quando uma das criaturas, que além dos volumosos lábios verdes não pareciam ter mais que uma fina e viscosa camada sobre a sua estrutura óssea, se aproximou e lhe deu duas vigorosas chapadas.

Paf, paf! Então pá? Ainda estás connosco ou não?

Esfregou os olhos e reconheceu as pessoas na sua frente. O que aconteceu, perguntou. Não faço a mínima ideia do que aconteceu, mas acho que da próxima vez é melhor meteres só um ácido.

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