quarta-feira, 26 de outubro de 2005

Censura

Queria só notar o facto de que, com bastante certeza, este nosso fantástico blog está bloqueado para a China continental!
Pois é, a China bloqueia o acesso a sites que contenham qualquer referência ao Falun Gong, inclusivamente a respectiva página da wikipedia (estive a ver agora mesmo a história da wikipedia e parece que desde o passado dia 20 todo o site está bloqueado!).
E agora, mesmo que mude o livro, já há um post com "Falun Gong" (duas vezes!) portanto lamentavelmente não conseguiremos chegar aos nossos irmãos chineses.
Talvez um dia...

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Já que isto anda fraquito...

E na linha do último post do Prof. Baltazar, vou deixar aqui um texto muito bom que recebi por mail, de autor desconhecido e que tem por título: "Modernidades linguísticas depois do 25 de Abril", embora eu lhe tivesse chamado «Tenho uma família monoparental». Em todo o caso gostaria de sensibilizar os intervenientes de tão nobre tertúlia para privilegiarem sempre o texto original e inédito.

Cá vai:

Tem muito humor, observa bem a actualidade cultural portuguesa e não ofende ninguém. Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos pretos, com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico". De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a "auxiliares da acção educativa". Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se de "delegados da propaganda médica". E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".
Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de cerveja e de cocaína se equivalessem!); o aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez"; os gangues étnicos são "grupos de jovens"; os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; e as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais". O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.
Desapareceram outrossim dos comboios as classes 1.ª e 2.ª, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante. Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e terroristas; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável". Ainda há cegos, infelizmente, como nota na sua crónica o Eurico. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...) Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
À margem da revolução semântica ficaram as putas. As desgraçadas são ainda agora quem melhor cultiva a língua. Da porta do quarto para dentro, não há "politicamente correcto" que lhes dobre o modo de expressão ou lhes imponha a terminologia nova. Os amantes do idioma pátrio, se o quiserem ouvir pleno de vernaculidade, que se dirijam ao bordel mais próximo. Aí sim,um pénis de 25 centímetros é um "car**** enorme" e nunca um sobredimensionado"; assim como dos impotentes, coitados, dizem elas castiçamente que "não levantam o pau", e não que sofrem de "disfunção eréctil".

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

A redacção que se segue foi escrita por um candidato numa selecção de Pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite e seu texto esta a fazer furorna Internet, pela sua criatividade e sensibilidade.

Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar, já me queimei a brincar com uma vela, já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, já falei com o espelho, já fingi ser bruxo.Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; já me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora; já estive sobo chuveiro até fazer chichi.Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo a caminhar pelo desconhecido.Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, já me cortei ao barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada música no autocarro.Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer.Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, já subi a uma árvore para roubar fruta, já caí de uma escada.Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; já fugi de minha casa para sempree voltei no instante seguinte.Já corri para não deixar alguém a chorar, já fiquei só no meio de mil pessoas sentindo a falta de uma única.Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado, já mergulhei para a piscina e não quis sair mais, já bebi whisky até sentir os lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.Já senti medo da escuridão, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial, já acordei a meioda noite e senti medo de me levantar.Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas eraum "para sempre" pela metade.Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua; já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos eque a vida é um ir e vir permanente.Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração...
Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel: " - Qual é a sua experiência?"
Essa pergunta fez eco no meu cérebro. "Experiência.... "Experiência... "Será que cultivar sorrisos é experiência?
Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário:" - Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova???"

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Três hurras para as estações!

Tenho sempre uma grande resistência em largar a t-shirt. Hoje já estavam uns pouco confortáveis 14 graus quando saí de casa, já está um bocado de frio quando saio do trabalho, mas algo cá dentro me obriga a resistir e só quando já se pode considerar sofrimento é que acabo por me render e levar um casaquito. Eu sei que há por aí resistentes maiores, tipo aquele ganda maluco (não vou mencionar nomes, mas ele sabe quem é) que usa calções em pleno Inverno. Não é uma tentativa de estender o Verão, é apenas inércia. Porque eu gosto realmente de todas as estações, gosto da mudança e embora muita gente ache uma imbecilidade, já tenho saudades do frio e da chuva. Adoro as cores do Outono, de estar no carro a ver a chuva a cair, ou estar em casa, quentinho e confortável, a ouvir o vento e a chuva a bater nas janelas, gosto do Inverno, de estar no quentinho, de os gatos se enfiarem dentro da cama, de acender uma lareira, de sentir o frio que nos mostra que estamos vivos. Da Primavera e do Verão nem vale a pena falar, gosto delas por todas as razões que toda a gente gosta, mas do que eu gosto mesmo é que haja estações!

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Ser céptico

Eu, quando era mais jovem, pensava que era um céptico. Vejo agora que assim não era, eu tinha era uma mente muito limitada e assumia uma postura de, se não for cientificamente provado é porque não existe. Mas terá, por exemplo, o décimo planeta do nosso sistema solar começado a existir apenas quando o descobrimos? Não, eu não era céptico, agora é que sou, porque ser céptico não é negar mas sim questionar, é não aceitar dogmas como verdades absolutas e procurar fundamentar aquilo em que acreditamos, mas, não conseguir provar a existência de alguma coisa não prova a sua não existência. Acreditar piamente que algo não existe só porque não se consegue explicar é mais uma atitude dogmática que céptica. Qual é a diferença entre acreditar piamente numa coisa sem ter fundamentos e não acreditar numa coisa por não ter fundamentos? Negar à partida algo que não se compreende é uma atitude tão dogmática como aceitar incondicionalmente algo que não compreendemos. Agora sim, sou um céptico, não aceito verdades incondicionais, mas também não descarto possibilidades. Não digo “Deus existe!”, não digo “Deus não existe!”, digo apenas “Existirá deus?”.