quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Hilarious

Foi um prazer, pessoal. Armenia, here I go! :)

Hello. Please do not be surprised this message is not spam mailing.
You probably will be very surprised that I write you a letter. But yesterday, I was surprised, too, when my e-mail address, came a letter, which said about love, about the feelings among people. The main motto of this letter was the phrase «Looking for love and you will be happy». I liked the letter. In the list of e-mail address, I saw your e-mail and decided to write to you. Perhaps you are looking for love? Maybe this letter - the fate? I do not know how the man who sent me the letter, hear my personal e-mail. But I think it is not important. The most important thing is that now I can write you a letter. You know, I want you to learn more. But first, I want to tell a little about me. My name is Sona. I'm from Armenia. I am 27 years old. I have never been married and have no children. I am pretty, quiet, kind and sociable girl. I would be interested to talk with you and know you closer. I compose their communication with the primary objective - creating serious relationships. Relations without deception, without any games. I want to find this man who can love and respect me. I hope that you just want to find their love? I believe in romantic relationships, appearance and age is not the most important thing. The most important thing is that people know how to love and respect on this! I have different hobbies and interests, among them - sports, cooking, reading, music. Of particular interest to me a matter of housekeeping, cleaning the house. I like to experiment in the kitchen. I love animals. I am leading a healthy lifestyle. I do not smoke nor drink alcohol. My new friend, can you tell me about you? I want you to learn more. The following letters, I will tell you about me, in more detail.

I give you my e-mail address:
shahbsona@gmail.com

Of course, I will send you a lot of my photos, of whom you know my life. In my photo showing all the moments of my life - joy, muse, and even in some sad moments. I eagerly await your response will be. I really want you to learn more. Please do not forget about me. Your new friend from Armenia, Sona.

2009

Faz-me alguma confusão esta cena toda dos votos de boas festas e felizes anos novos. De receber mensagens de pessoas com quem ainda não tinha trocado uma única palavra durante o ano. Suportado pelo argumento de não ser cristão, lá me safo de não desejar feliz natal a ninguém, mas para os votos de feliz ano novo, já não dá. Embora me pareça que esta história é toda para compensar o facto de termos passado o ano sem dizer às pessoas que gostamos delas, e não achando que alguém terá um ano pior por falta dos meus votos, vou alinhar, até porque eu gosto das pessoas. De algumas, pelo menos...

Tende um excelente 2009, pois sois todos altamente! :)

E quem não vier cá ler isto... Não vou ao ponto de dizer que não merece um bom 2009, mas... viesse.

Tinha decidido não ter resoluções de ano novo, mas esta manhã já arranjei algumas:
1 - Comprar um guarda-chuva. Dá bastante jeito para ter no carro;
2 - Não escrever mais posts realistas como este, só ficção.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Novidades

Josefiiiina!! Ainda bem que te encontro! Tenho novidades fresquinhas que até te vão eriçar os pelos da pássara, Josefina! Então, diz-se que a Carlota, a filha do homem do talho, que se conta que anda enrolado com a viúva que mora no prédio do lado, aquela que mora mesmo ao lado da Hortênsia, que, coitada, parece que finalmente percebeu que o filho é gay quando ele apareceu com um amigo africano enorme, vestido de tirolês, para dormir lá em casa, quem viu foi a Mariana, que coitada, também não pode falar muito, com os dois filhos na droga, até se diz que já se andam aí a vender em casas de banho públicas para pagar o vício, que deve ser coisa de família já que o que se fala por aí é que a irmã dela também ataca e até já ouvi que recebe deficientes em casa, família desgraçada, pior mesmo só a do Chico da mercearia, eu não vi nada, mas o que se diz é que anda a pôr os cornos à mulher com um velho gordo e peludo, que, coitada, passa os dias a embebedar-se com os outros velhos naquela tasca onde se conta que até se vende droga, até me disseram que uma noite a viram sair de lá agarrada a três marmanjos, todos a cair de bêbedos, não foi vista durante três dias e agora parece que só bebe de pé ao balcão, coitada, eu não sei é como é que ela paga a conta do vinho, quer dizer, saber até sei, até deve ser por isso que está a começar a ficar sem cabelo à frente, e nem vou entrar em pormenores sobre os filhos, coitados, entregues assim à avó, que fuma que nem uma besta do inferno e, desde que o marido se atirou da janela para não a ouvir mais, coitado, devia era tê-la atirado a ela, anda nua pela casa, coitados, vão ser de certeza uns traumatizados e andar por aí a pegar fogo aos próprios genitais e esventrar pequenos animais, está grávida e não sabe quem é o pai!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ritual

- Eu sabia, eu sabia! Porque é que eu vou na tua conversa?
- Calma, calma. Isto resolve-se.
- Tenho que te lembrar que foi esse tipo de atitude que nos pôs nesta situação? Se não fosse essa onda do "vai correr tudo bem" não estávamos agora aqui.
- Até podes ter razão, mas desesperar também não vai ajudar em nada.
- Não estou a desesperar. Estou apenas a descarregar a minha raiva. Onde é que eu estava com a cabeça para te deixar convencer-me a alinhar contigo nisto?
- Preciso de mencionar que fizeste tudo de livre vontade?
- De livre vontade porque tu me garantiste que não podia correr mal! Eu bem que perguntei se o ritual era seguro, se não havia a possibilidade de acontecer algo assim. E o que é que tu disseste? Que era tranquilo, que era tão simples que nada poderia correr mal.
- Pois...
- Pois! E eu, infantil, alinhei. Que besta que sou...
- Pronto, tens razão, o ritual não era assim tão seguro. Podemos ultrapassar essa fase e concentrar-nos em sair daqui?
- Por agora sim, mas não penses que o assunto vai ficar por aqui.
- Bom... Não vejo grande alternativa senão tentar o ritual outra vez...
- A minha vontade agora era desancar-te, não repetir o ritual, mas infelizmente tens razão. Não deve haver outra maneira.
- Vamos lá então?
- Dá-me uns momentos para me mentalizar. Senão, com a sede com que te estou, vai correr ainda pior de certeza.
- ...
- ...
- Então?
- Não estou mesmo com nenhuma inspiração para isto. Mas tem que ser, não é?
- Pois... Vá, põe-te lá na posição.
- Seja... Assim?
- Sim, não está mal, dobra só mais um bocadinho os joelhos... Isso, perfeito. Agora eu ponho-me aqui...
- Calma, calma, assim não vai dar!
- Dá, tens só que passar a perna para este lado.
- Isto vai correr mal outra vez...
- Cuidado, cuidado!
- Merda!!! Onde é que estamos agora?
- Realmente começo a achar que isto não foi das minhas melhores ideias...
- Achas? Não sei porquê?...
- Em vez de fazeres comentários sarcásticos, que tal colocares-te outra vez na posição para tentarmos de novo?
- Pois... Que remédio, não é? Mas eu ainda me vou vingar disto.
- Sim, sim, depois logo te vingas, mas por favor concentra-te agora.
- Vá, já estou em posição, despacha-te lá com isso.
- Pronto, já está, podes passar para a segunda posição. Calma, devagar...
- Vá, despacha-te mas é com isso!
- Não me pressiones! Agora ponho a perna aqui... Já está... Falta pouco, aguenta agora a posição um bocadinho... Pronto, já está!
- Parece tudo normal... Acho que resultou. Faz o favor de te afastares de mim e acho que o melhor é mesmo não falares comigo durante algum tempo.
- Mas...
- Mas??
- Mas, agora já temos alguma prática... Tenho a certeza que agora correria tudo bem...

This is hardcore - Pulp

For You ;)

http://br.youtube.com/watch?v=eoEFVVBdZRY

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Movimento perpétuo

Lá está o velhote. Esquelético e encurvado, sempre no mesmo banco do jardim. Horas esquecidas num movimento lento e repetitivo, aparentemente perpétuo, a atirar pedaços de pão para um chão onde nem um único pássaro pousa. Parte-me o coração, vê-lo ali, estoicamente, dia após dia, e nem um pássaro. Sento-me ao seu lado e fico alguns momentos em silêncio a desenhar mentalmente constelações com os inúmeros pedaços de pão abandonados pelo passeio. Se calhar migraram. Digo eu em jeito de piada, para quebrar o gelo. Quem? Pergunta o velhote sem alterar a sua postura nem o seu movimento eterno. Os pássaros. Respondo. Que pássaros? Pergunta o velho com um laivo de genuína surpresa na voz, continuando sempre na sua posição encurvada e sem nunca virar a cabeça na minha direcção. Pois. Digo eu, já com algumas dúvidas se teria sido boa ideia tentar falar com o velhote. Porque continua então a atirar o pão? Pergunto. Para os pássaros. Responde tranquilamente o velhote. Mas, não existem pássaros! Exclamei. O velho levanta a cabeça, roda-a na minha direcção e fita-me com os seus olhos completamente brancos. E eu existo? Perguntou-me enquanto me pegava na mão e a colocava sobre o seu peito onde não se sentia qualquer pulsar. Olho em frente, os pássaros juntam-se no passeio. Tiro um pedaço do pão que tenho na mão e, num movimento perpétuo, lanço-o às aves que se amontoam no chão à minha frente.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Pesadelo 1/?

Acorda querido, já é tarde, disse uma doce voz. Só mais um bocadinho... AAARGH!!! Quem és tu? O que és tu??? O homem saltou da cama em terror. Ofegante, encostado à parede, tentou organizar os seus pensamentos. Tentou lembrar-se de uma explicação para, na sua cama, estar uma horrenda e aterrorizante criatura, mas não conseguiu. Não estava a ser fácil raciocinar com aquele ser estranho mesmo ali a olhar para si com os seus olhos de pupilas disformes, mas não achou que fosse isso que o estivesse a impedir de formular uma explicação. Era um pesadelo, só podia ser um pesadelo. Respirou fundo e tentou acalmar-se. Isto é um sonho, não é real, disse para si mesmo. O que é que não é real, perguntou a criatura. O homem limitou-se a fitá-la incrédulo. Questionou-se onde teria a sua mente ido buscar uma criatura tão medonha. Era como se tivessem envolvido com um enorme polvo, arroxeado e viscoso, o esqueleto de um chimpanzé mutante, com inúmeros braços e pernas. Naquilo que eventualmente se podia considerar a cabeça, havia apenas um par de enormes e estranhos olhos. A voz parecia sair de uma série de orifícios em redor da cabeça e a parte inferior do corpo estava ainda coberta com o lençol, pelo que poderiam ainda haver mais surpresas.

Querido, estás a assustar-me, disse a criatura. Estou a assustar-te? Estou a assustar-te??? Só podes estar a gozar comigo! Eu tenho é que acordar! Ao terminar a frase, o homem deu uma violenta palmada na sua própria face. Não percebo porque é que te estás a comportar assim. Apesar da aparência repelente, a voz da criatura era doce e melodiosa. Ao aperceber-se que a única alteração na situação que a palmada tinha conseguido era uma dor na bochecha e um apito no ouvido, o homem percebeu que não ganharia nada em manter-se em negação em relação ao que lhe estava a acontecer. Olha, desculpa lá, mas eu não sei o que me está a acontecer. Não sou de certeza quem tu pensas e não sei sequer onde estou. Enquanto proferia a última frase, o homem olhou em volta para pela primeira vez se aperceber da peculiaridade do local onde se encontrava. Era mais que óbvio que não era a sua casa, mas também não era nada que alguma vez tivesse já visto. A arquitectura parecia extra-terrestre, em todo o quarto não era visível uma única linha recta, todas as formas eram curvas e retorcidas. Acho que posso assumir que não pretendes fazer-me mal, continuou, mas eu preciso de saber o que se está a passar. Eu também gostava de saber o que se está a passar, disse a criatura num tom trinado, acordas, olhas para mim e parece que viste um bicho estranho, ao menos pensa nos meus sentimentos. Está a desviar a atenção para os seus sentimentos, para o seu problema, pensou o homem, posso pelo menos assumir que é uma fêmea. Mas eu nem me lembro de me ter deitado com uma fêmea, e mesmo que estivesse extremamente bêbedo, acho que nunca me deitaria com uma fêmea destas. Ela parece conhecer-me, mas isto não pode estar a acontecer, só posso estar a sonhar. Mas porque é que ela não tira aqueles olhos estranhos de mim? Olha, disse tremulamente o homem, eu percebo que isto também não seja fácil para ti, mas tens também que compreender que é um choque acordar na cama de alguém que não é humano. Humano? O que é isso? Perguntou a criatura. Eu sou um humano, um ser da espécie humana, respondeu o homem. Olha, eu não sei o que se passou durante a noite, mas o que estás a dizer não faz sentido nenhum. Nem percebo o que é que queres dizer com isso de humano. Aparentemente não te lembras, mas juraste-me amor e fidelidade eternos. A criatura continuou o seu discurso, mas a mente do homem acabou por divagar. Começou por ponderar a melhor forma de fugir daquela repulsiva criatura, que aparentemente tinha exigências para si. Pensou em fugir a correr do quarto, mas o facto de não saber o que poderia encontrar do outro lado fê-lo vacilar. Bem que as minhas irmãs me tinham dito que eras maluco, mas ou liguei? Não, claro que não, e casei contigo na mesma, para um dia me acontecer isto. A última frase dita pela criatura fê-lo desviar-se dos seus pensamentos. Desculpa lá, disse o homem dirigindo-se à criatura, mas não te parece estranho teres casado com um ser de outra espécie? Achas tudo isto normal? Tu ficaste mesmo demente, retorquiu a estranha criatura, que história é essa de seres de outra espécie? Ah, agora já não és da minha espécie, é isso? Tanto que me avisaram e apesar disso, aqui estou eu, a ouvir destas. Para o que eu haveria de estar guardada. Mas, continuou o homem, já olhaste para ti e já olhaste para mim? E tu já fizeste isso, perguntou a criatura. A frase atingiu o homem como um raio. De facto não tinha ainda olhado para si e a ideia de poder ver uma criatura igual à que estava à sua frente petrificou-o. Fitou as pupilas disformes da criatura durante alguns momentos com verdadeiro temor no rosto. Depois, muito lentamente levantou a mão. Mais lentamente ainda, baixou a cabeça para olhar para a sua mão e gelou ao ver um tentáculo. Não, não pode ser, disse em pânico, o que é que me fizeram? Só te peço que tenhas calma, disse a estranha criatura demonstrando algum temor, qualquer que seja o problema, nós havemos de o resolver. Qualquer que seja o problema, nós havemos de o resolver? Repetiu ironicamente o homem. Eu sou um ser humano, não sou esta coisa! Como é que propões resolver isso? Disparou o homem. Sinceramente não sei como vamos resolver isto, disse tristemente a criatura, o que eu sei é que quando nos deitámos éramos um casal e eu nunca tinha ouvido essa palavra que estás sempre a dizer. Agora estás a dizer-me que não és quem eu conheço e partilho a vida há tanto tempo, não podes querer que eu saiba o que fazer. A única coisa que posso fazer, e fiz, é dispor-me a ajudar-te a resolver o problema. As palavras da criatura quase comoveram o homem. Assumindo que o que dizia era verdade, não passava também de uma vítima desta história, que ainda tinha a esperança não passar de um terrível pesadelo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Writer's block

O macaco sentou-se na sua almofada e olhou lúgubre para o seu tratador e amigo, enquanto este tirava a maquilhagem com a ajuda das lágrimas que escorriam. É sempre desolador ver um palhaço a chorar, mas aquele não era um palhaço qualquer. Era a única pessoa que poderia considerar família. A única pessoa que realmente alguma vez se tinha preocupado consigo desmoronava-se à frente dos seus olhos e o macaco não fazia a mais pequena ideia do que fazer. Ainda com a cara meio esborratada, o palhaço fitou no espelho o reflexo do seu único amigo e esforçou um sorriso. Deixa lá, não te preocupes comigo, isto passa, disse. O macaco limitou-se a baixar a cabeça. Mais tarde ou mais cedo isto teria que acontecer, continuou o palhaço, além do mais já estou velho, algum dia teria que arrumar a peruca. O macaco voltou a levantar a cabeça, olhando o seu amigo com tal tristeza que não foi preciso abrir a boca para que soubesse como se sentia. Estamos ultrapassados, continuou o palhaço, sem saber muito bem se falava com o seu fiel amigo, se consigo próprio. O macaco respondeu com um guincho estridente. O quê, perguntou o palhaço, reinventarmo-nos? Não achas que estamos um bocado velhos para isso? Os miúdos agora não acham piada a trambolhões e tartes na cara. Agora, algo que não meta sangue e desmembramentos não tem piada nenhuma. O macaco emitiu uma série de ruídos enquanto esbracejava freneticamente. Eu também sinto isso, respondeu o palhaço, sei a minha idade mas também acho que ainda tenho muito para dar, sinto-me, no entanto, desenquadrado, antiquado. O macaco deu um único guincho enquanto estendia o dedo indicador na direcção do palhaço. Sim, já sei, reinventarmo-nos, retorquiu o palhaço, mas como? O macaco abriu os braços e soltou uma sequência de grunhidos. Tens razão, respondeu o palhaço, estamos na era da comunicação, quem não está na internet não existe. Hum... É isso... É isso!!! É isso que eles querem, não é? Então tê-lo-ão. Depois de proferir a última sílaba, o palhaço manteve um sorriso tão maquiavélico que fez o macaco estremecer...

Foi aqui que a coisa deixou de fluir, e quando a coisa não flui não há nada a fazer. Por isso, se alguém quiser, pode pegar a partir daqui. Até se pode fazer aquele jogo estúpido de quando éramos putos de cada um inventar uma parte da história, e tal :)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

1093

- Alípio, para mim chega, nunca mais vou esfregar o pernil de porco com aquela mistura de alho e ervas, com uma pitada de pimenta e paprika.

- O quê?

- O pernil, Alípio! O pernil!!!

- O que é que tem o pernil?

- Nunca mais terá o tempero a que sempre estiveste habituado.

- Não?! Mas... Sem alho e ervas e uma pitada de pimenta e paprika tudo é mais insípido... Porquê Genoveva, porquê???

- Porque estou farta Alípio. Porque nunca mereceste uma pitada que fosse da pimenta ou da paprika. Porque sempre tomaste o tempero como garantido sem nunca, nunca mostrares que tivesse qualquer tipo de importância para ti.

- Mas, mas...

- Acabou Alípio, o pernil não terá mais alho. Não terá mais ervas, nem pimenta, nem paprika. Muito menos terá o equilíbrio perfeito entre todos os ingredientes que eu conseguia só para ti.

- Ai é? Ai é? Então podes esquecer aquelas amêijoas à Alípio. Nunca mais lamberás os dedos a escorrer aquele molho fenomenal. Não, as amêijoas não terão mais coentros. Não terão mais a quantidade de jindungo perfeita para ti!

- Ó Alípio, já não fazes essas ameijoas há mais de dez anos...

- Então e tu? Quando é que foi a última vez que fizeste aquele empadão de arroz que eu venero? Quando é que foi a última vez que te deste ao trabalho de escolher a carne certa, de a desfiar em vez de a picar, de fazer o molho mesmo picante como eu gosto? Quando??? Acho que já nem me lembro do sabor.

- Porque não dás valor, Alípio. Porque enfardas tudo como um porco! Porque me fazes duvidar se vale a pena o esforço. Às vezes penso que mais valia dar-te feijoada todos os dias, e não era daquela que tanto gostas, em que desfaço uma farinheira no molho para ficar mesmo ao teu gosto, não. Era feijoada de lata, daquela cheia de couratos!!!

- Ai... Que já sinto aqui o olho a tremer... Então e tu? Dás valor a alguma coisa? Na minha última folga, chegaste a casa e tinhas o jantarinho feito. Um peixinho no forno inventado exclusivamente para ti. Eu sei que lhe chamei peixe MacGyver e não peixe Genoveva, mas foi só porque tive que trabalhar com o que tinha à mão. Mas foi criado para ti, cada ingrediente que colocava era contigo em mente. A cebola tinha a tua cara, o manjericão cheirava a ti. Cheguei até mesmo a pensar que um dos cournichons que espetei no peixe tinha a tua silhueta. Tudo, tudo a pensar em ti. E tu... tu chegaste a casa de trombas, emborcaste mais vinho que peixe e quando eu cheguei com o café, aquele café com o toque de canela que tu adoras, com a quantidade certa de açúcar, já estavas tu a dormir no sofá e eu tive que passar o resto do serão sozinho. Que valor deste tu ao manjericão? Ao pimento vermelho? Àquela colher de maizena que diluí no molho para que ficasse mais aveludado como tu gostas? Que valor? Diz-me!

- Sabes, esta conversa está mesmo a abrir-me o apetite...

- A mim também... Hum... Tirinhas de porco panado com molho agridoce, daquele que só eu sei fazer para ti...

- Uff, Alípio... Espetadinhas de lulas, daquelas que eu faço com extra pimento, e aquele molho de manteiga com piri-piri e salsa e limão...

- Oh, Genoveva...

- Oh, Alípio...