sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tempus Fugit - Capítulo 1.2.1.2

Quem és tu? Perguntei. Quem sou eu? Tu é que devias saber. Eu nem sequer tenho nome. Respondeu. Ah, és tu... Mas tu não existes, o que é que estás aqui a fazer? Sei lá eu! A última coisa que me lembro é de um médico me injectar qualquer coisa, portanto isto deve ser outra viagem dentro da minha cabeça. E sabes quem eu sou... Sim, não sei como nem porquê, mas sim, sei. Curioso, muito curioso. Olha, a mim já nada me espanta, mas acho que isto se calhar é para me dar a oportunidade de te dizer que estou cansado, que já não me apetece mais. Acredita que compreendo perfeitamente, a mim também já me chateia um bocado, e nem está a sair grande coisa, mas acho que pelo menos pelo valor como exercício criativo, não devíamos desistir. Não sei quanto mais vou aguentar... Onde é que está o teu espírito? É o teu propósito, algo ao qual não podes escapar. É óbvio que tens razão, mas às vezes o ímpeto esmorece. Pedires-me para desistir é perfeitamente absurdo, tu és um sobrevivente! Agora vá, desanda daqui e cumpre o teu fado.

Abriu os olhos de repente, como se tivesse sido empurrado para a realidade. Era noite e tudo estava envolvido numa tranquila penumbra. Respirou fundo e tentou descontrair enquanto se lembrava do sonho que tinha tido. Questionou-se sobre o que significaria, se teria sido mesmo um sonho, já que estava tão vívido na sua mente como qualquer acontecimento real. Parecia tão real como a aprisionante inactividade do seu corpo. Ponderou sobre quem seria aquela pessoa. No sonho conhecia-a, mas não sabia quem era. Apesar disso, percebeu um ódio visceral, Não sabia porquê, mas odiava aquela pessoa. Um ódio tal que o assustou quase a um ponto de choque. Desisto, ouviste? As frases formavam-se no seu cérebro, vindas de um qualquer recanto do seu subconsciente. Para mim chega! Não sou o teu fantoche! A confusão aumentava, não sabia porque a sua mente parecia fora do seu controle, nem a quem se dirigia. Desisto! Tenho esse direito! A sensação de impotência era atroz. Era como se fosse um mero espectador enquanto a sua mente proferia iradas exclamações. Liberta-me, filho da puta! Liberta-me! Quem? Quem? Só podia ser aquela pessoa. Mas quem era? Porque a odiava assim?

Começou a recuperar o controlo da sua mente. Conseguiu tranquilizar-se lentamente, mas uma palavra permaneceu indelével, "desisto", a palavra acabou por ocupar todo o seu pensamento. Calmamente fechou os olhos. Concentrou-se no seu coração, visualizou-o na sua cabeça, tranquilamente, cada vez com maior detalhe. Passado algum tempo, era como se estivesse a olhar para dentro do seu peito. Via nitidamente o seu coração a pulsar, conseguia ver até os pequenos vasos que o irrigam. Concentrou então nele toda a sua força, toda a sua vontade, e ele parou.

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