quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tempus Fugit - Capítulo 1.1.2.2

Por muito confortável que se sentisse durante o momento morto, não conseguia evitar que o aterrorizasse a ideia de estar completamente sozinho, de não vir a ter outro contacto com um ser humano. Este temor provocou-lhe uma torrente de recordações. Lembrou-se da sua família, dos seus amigos. Lembrou-se dos passeios à beira-mar, com as ondas a acariciarem-lhe os pés. Do vento na cara. Do que apreciava observar as pessoas nas suas vidas. Sentiu saudades de ter emoções. Pela primeira vez a tranquilidade pareceu-lhe insuficiente. Não queria tranquilidade, queria emoções. Não as conseguiria voltar a ter se não eliminasse o momento morto. Já não lhe interessava qual a verdadeira realidade, apenas queria viver numa em que existisse mais gente. Não queria ficar sozinho.

Procurou a pessoa e sem mais hesitações assinou o documento que lhe permitiria voltar a ser normal. A pessoa sorriu. Disse-lhe que tinha tomado a decisão certa e, retirando o cadeado que trancava o armário por trás de si, retirou um frasco a partir do qual encheu uma seringa. É provável que com esta dose deixe completamente de ter lapsos de consciência. Acenou afirmativamente com a cabeça, autorizando a intervenção.

Viveu de forma normal o resto dos seus dias, valorizando e acarinhando cada experiência, agradável ou não, crescendo e aprendendo com ela. Apreciou cada momento que passou com outras pessoas, evoluindo com o que com elas aprendia. Poucos talvez tenham sido os momentos em que voltou a experimentar verdadeira tranquilidade, mas isso não o incomodava. Dava-se por feliz por esta lhe ser negada pelas emoções que o inundavam.

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