Começou com o som constante de passos atrás de mim. Ao princípio, como para qualquer outra pessoa, era uma situação perfeitamente normal, seria alguém que vinha a caminhar atrás. Mas não agora, já me aconteceu vezes suficientes para achar que há muito mais probabilidades de não encontrar ninguém atrás de mim, apesar do som dos passos ser perfeitamente distinguível e, embora isso possa já ser impressão minha, seja até perceptível a presença de alguém. Ficaria extremamente feliz se fosse tudo uma questão de impressão, impressão que alguém me segue, mas e o som? O som dos passos é inconfundível e não sou o único que já ouviu. Alguns dos meus amigos também já partilharam comigo o arrepiante fenómeno e acho até que foi isso que afastou de mim a maioria deles. E como é que eu os posso censurar? Se me pudesse libertar disto com a facilidade com que eles podem, provavelmente já o teria feito também. Já dura há algumas semanas, e apesar de já não me surpreender, não consigo evitar o arrepio que me percorre a coluna vertebral quando acontece.
Piorou muito quando começou o cheiro. Mais recentemente, pouco depois de começarem os passos, envolve-me e invade-me as narinas um cheiro acre. Nas primeiras vezes chegava mesmo a dar-me vómitos, mas acabei por me conseguir habituar minimamente. Lá tentava continuar com a minha vida, fazendo um esforço para ignorar tudo isto, mas quando um dia ouvi nitidamente uma voz, não consegui mais. "Preciso de um favor teu", disse a voz. Calma, segura, perfeitamente nítida e vinda de lado nenhum. Apesar de já esperar não encontrar ninguém, olhei em volta como que suplicando uma explicação. Nada. O pavor instalou-se. A respiração parou. Os olhos esbugalharam-se. Os músculos contraíram-se e petrificaram. Só o coração teimava em contrariar o estado de latência do resto do corpo, debatendo-se violentamente contra o esterno como um lunático que se debate violentamente contra o colete de forças que o restringe. Lentamente consegui caminhar até um sítio onde me pude sentar e recuperar do susto.
Pensei que não podia continuar em negação sobre o que me estava a acontecer, isso não me iria ajudar a lidar com a situação. Mas fazer o quê? Ajuda para quê? Apesar de ter começado a aceitar a minha condição, não sabia o que podia fazer para a resolver. Nunca dei qualquer crédito a esoterismos, espiritismos ou exorcismos, e continuava a descartar a hipótese de que o fenómeno estaria relacionado com este tipo de crenças, mas depois de ouvir a voz mais algumas vezes, sempre depois de começar a ouvir os passos e sentir o odor, comecei a abrir-me a outras perspectivas.
6 comentários:
:)
I detect evil presences in this room...
Será a tua sombra???????
Temei!! :)
Estou a reter a respiração na expectativa do que se segue…
O pulmãozinho anda mais aberto, mas não demores muito ;)
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