quinta-feira, 3 de março de 2011

Dia 6

Ainda respiro. Para a maioria das pessoas é algo normalíssimo e sobre o qual nem se pensa, mas, na minha situação, respirar significa muito mais. Significa que ela está indecisa. Sei perfeitamente que, caso ela não estivesse a ponderar confiar em mim, eu já não estaria vivo, portanto, é uma excelente notícia! Claro que não me dá qualquer garantia de que vou sair daqui pelo meu pé, mas pelo menos diz-me que existe uma probabilidade disso.
Fui acordado pela tranca da porta. Uma jovem rapariga foi introduzida no local onde estou cativo. Ainda meio trôpego, olhei para a porta apenas para ver fugazmente um relance do seu rosto a espreitar. Um segundo depois a porta estava novamente trancada. Deixei-me estar deitado de costas, fixando um ponto no tecto, a ponderar a situação. Não estava em questão a razão da presença da infeliz, essa era certa, mas percebi que como o faria poderia definir o meu destino. Esta era a minha oportunidade de lhe mostrar que era digno do seu respeito. Tentei avaliar as minhas opções, mas acabei por não conseguir ignorar por mais tempo a histeria da rapariga. Olhei para ela contendo o impulso de lhe partir o pescoço e ela aparentou perceber que a sua salvação não passava por gritar descontroladamente.
Estranhei ter-se acalmado tão depressa, mas a verdade é que me perdi novamente nos meus pensamentos e não sei ao certo quanto tempo terá passado. Perguntou-me porque estava ali, o que estava a acontecer. Disse-lhe calmamente que ia morrer e, em vez da gritaria para a qual me estava já a preparar, ela limitou-se a encolher-se num canto a soluçar, quase inaudível. O soluçar era muito mais fácil de ignorar e fiquei satisfeito por verificar que conseguia pensar e escrever muito melhor.
Considerando as minhas possibilidades, tentei inferir a que me proporcionaria um maior respeito da parte dela, mas questionei-me imediatamente se seria a abordagem certa. Deveria ser aquilo que achava que ela desejava que eu fosse? Não. Por muito graves que fossem as consequências a única coisa certa a fazer seria ser genuíno. Não queria o respeito dela por algo que eu não faria sem essa pressão.
Com isto coloca-se um problema. Sou uma pessoa meticulosa, alguns diriam até compulsiva. Sigo os meus protocolos quase religiosamente e não estou nada habituado a, qual McGyver, trabalhar com o que tenho à mão. E o que tenho à mão é mesmo muito pouco.
Decidi que não vou fazer nada hoje. Muitas vezes é quando a nossa cabeça repousa na almofada, almofada esta que, neste caso, é completamente metafórica, que as coisas parecem mais claras. 

3 comentários:

Nawita disse...

Ok, sabemos que estás numa cave, mas há alguma janela? A porta é de ferro ou de madeira?

è que não tens assim tão pouco à mão, tens uma rapariga acabada de chegar, podes usá-la como escada para chegar à janela ou atirá-la à porta até rebentar a fechadura, ou a rapariga.

Nawita disse...

acho bem que não lhe tenhas dado falsas esperanças, mas a tadinha se calhar vai cooperar melhor se lhe deres um abraço.

Rodovalho Zargalheiro disse...

Nah... :)