segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Pesadelo 1/?

Acorda querido, já é tarde, disse uma doce voz. Só mais um bocadinho... AAARGH!!! Quem és tu? O que és tu??? O homem saltou da cama em terror. Ofegante, encostado à parede, tentou organizar os seus pensamentos. Tentou lembrar-se de uma explicação para, na sua cama, estar uma horrenda e aterrorizante criatura, mas não conseguiu. Não estava a ser fácil raciocinar com aquele ser estranho mesmo ali a olhar para si com os seus olhos de pupilas disformes, mas não achou que fosse isso que o estivesse a impedir de formular uma explicação. Era um pesadelo, só podia ser um pesadelo. Respirou fundo e tentou acalmar-se. Isto é um sonho, não é real, disse para si mesmo. O que é que não é real, perguntou a criatura. O homem limitou-se a fitá-la incrédulo. Questionou-se onde teria a sua mente ido buscar uma criatura tão medonha. Era como se tivessem envolvido com um enorme polvo, arroxeado e viscoso, o esqueleto de um chimpanzé mutante, com inúmeros braços e pernas. Naquilo que eventualmente se podia considerar a cabeça, havia apenas um par de enormes e estranhos olhos. A voz parecia sair de uma série de orifícios em redor da cabeça e a parte inferior do corpo estava ainda coberta com o lençol, pelo que poderiam ainda haver mais surpresas.

Querido, estás a assustar-me, disse a criatura. Estou a assustar-te? Estou a assustar-te??? Só podes estar a gozar comigo! Eu tenho é que acordar! Ao terminar a frase, o homem deu uma violenta palmada na sua própria face. Não percebo porque é que te estás a comportar assim. Apesar da aparência repelente, a voz da criatura era doce e melodiosa. Ao aperceber-se que a única alteração na situação que a palmada tinha conseguido era uma dor na bochecha e um apito no ouvido, o homem percebeu que não ganharia nada em manter-se em negação em relação ao que lhe estava a acontecer. Olha, desculpa lá, mas eu não sei o que me está a acontecer. Não sou de certeza quem tu pensas e não sei sequer onde estou. Enquanto proferia a última frase, o homem olhou em volta para pela primeira vez se aperceber da peculiaridade do local onde se encontrava. Era mais que óbvio que não era a sua casa, mas também não era nada que alguma vez tivesse já visto. A arquitectura parecia extra-terrestre, em todo o quarto não era visível uma única linha recta, todas as formas eram curvas e retorcidas. Acho que posso assumir que não pretendes fazer-me mal, continuou, mas eu preciso de saber o que se está a passar. Eu também gostava de saber o que se está a passar, disse a criatura num tom trinado, acordas, olhas para mim e parece que viste um bicho estranho, ao menos pensa nos meus sentimentos. Está a desviar a atenção para os seus sentimentos, para o seu problema, pensou o homem, posso pelo menos assumir que é uma fêmea. Mas eu nem me lembro de me ter deitado com uma fêmea, e mesmo que estivesse extremamente bêbedo, acho que nunca me deitaria com uma fêmea destas. Ela parece conhecer-me, mas isto não pode estar a acontecer, só posso estar a sonhar. Mas porque é que ela não tira aqueles olhos estranhos de mim? Olha, disse tremulamente o homem, eu percebo que isto também não seja fácil para ti, mas tens também que compreender que é um choque acordar na cama de alguém que não é humano. Humano? O que é isso? Perguntou a criatura. Eu sou um humano, um ser da espécie humana, respondeu o homem. Olha, eu não sei o que se passou durante a noite, mas o que estás a dizer não faz sentido nenhum. Nem percebo o que é que queres dizer com isso de humano. Aparentemente não te lembras, mas juraste-me amor e fidelidade eternos. A criatura continuou o seu discurso, mas a mente do homem acabou por divagar. Começou por ponderar a melhor forma de fugir daquela repulsiva criatura, que aparentemente tinha exigências para si. Pensou em fugir a correr do quarto, mas o facto de não saber o que poderia encontrar do outro lado fê-lo vacilar. Bem que as minhas irmãs me tinham dito que eras maluco, mas ou liguei? Não, claro que não, e casei contigo na mesma, para um dia me acontecer isto. A última frase dita pela criatura fê-lo desviar-se dos seus pensamentos. Desculpa lá, disse o homem dirigindo-se à criatura, mas não te parece estranho teres casado com um ser de outra espécie? Achas tudo isto normal? Tu ficaste mesmo demente, retorquiu a estranha criatura, que história é essa de seres de outra espécie? Ah, agora já não és da minha espécie, é isso? Tanto que me avisaram e apesar disso, aqui estou eu, a ouvir destas. Para o que eu haveria de estar guardada. Mas, continuou o homem, já olhaste para ti e já olhaste para mim? E tu já fizeste isso, perguntou a criatura. A frase atingiu o homem como um raio. De facto não tinha ainda olhado para si e a ideia de poder ver uma criatura igual à que estava à sua frente petrificou-o. Fitou as pupilas disformes da criatura durante alguns momentos com verdadeiro temor no rosto. Depois, muito lentamente levantou a mão. Mais lentamente ainda, baixou a cabeça para olhar para a sua mão e gelou ao ver um tentáculo. Não, não pode ser, disse em pânico, o que é que me fizeram? Só te peço que tenhas calma, disse a estranha criatura demonstrando algum temor, qualquer que seja o problema, nós havemos de o resolver. Qualquer que seja o problema, nós havemos de o resolver? Repetiu ironicamente o homem. Eu sou um ser humano, não sou esta coisa! Como é que propões resolver isso? Disparou o homem. Sinceramente não sei como vamos resolver isto, disse tristemente a criatura, o que eu sei é que quando nos deitámos éramos um casal e eu nunca tinha ouvido essa palavra que estás sempre a dizer. Agora estás a dizer-me que não és quem eu conheço e partilho a vida há tanto tempo, não podes querer que eu saiba o que fazer. A única coisa que posso fazer, e fiz, é dispor-me a ajudar-te a resolver o problema. As palavras da criatura quase comoveram o homem. Assumindo que o que dizia era verdade, não passava também de uma vítima desta história, que ainda tinha a esperança não passar de um terrível pesadelo.

8 comentários:

AP disse...

Tem dias que eu quando acordo também tenho 3 pernas, mas depois passa :)

Canuca disse...

lololol...

O álcool é lixado, deitamo-nos com uma pessoa e acordamos com outra lollol...depois fica sempre bem fazer este papel de maluquinho do "quem és tu?" "onde estacionaste a nave?" lolol....

Kiss

Rodovalho Zargalheiro disse...

O menino AP anda um malandreco ;)

Não sei se é do álcool, Canuca...

;) AA

AP disse...

O Natal desperta o traquinas que há em mim :)

Canuca disse...

Fiz duas interpretações do teu texto...fiz uma mais séria que n me apeteceu escrever ;).

Rodovalho Zargalheiro disse...

Se calhar fizeste bem, normalmente a seriedade não tem piada nenhuma ;)

AP disse...

Então não tem?! Basta olhar para a cara séria do Cavaco...

Canuca disse...

O Cavaco está sempre com aquele ar, de quem quer ir ao Wc, mas agora n tem tempo lol.