terça-feira, 14 de junho de 2011

Adrenalina #3

No dia combinado, o Bonifácio e o Matias lá foram à sua aventura, com um nó no estômago causado pelo extremo nervosismo. O Bonifácio estranhou que, ao contrário do que pensou que aconteceria, o Matias não aparentava estar tão nervoso como ele. Começou a perceber que, também ao contrário do que pensava, a forma como o Matias vivia a sua vida era mesmo por uma questão de opção e não propriamente por ter medo de nada. “Quem diria…”, terá pensado o Bonifácio, “que ele manteria esta calma a uma hora de se atirar de um penhasco?”. Claro que a pulsação do Matias estava tão acelerada como a do Bonifácio mas, desde que tomou a decisão de alinhar na aventura proposta pelo seu amigo, não se viu mais nele um instante sequer de hesitação. O Bonifácio estava radiante.
Preparativos feitos, lá estavam os dois prontos a saltar, com a adrenalina a escorrer-lhes pelos poros. O Bonifácio foi à frente e, depois dos momentos do misto de pânico e excitação que sentiu após os seus pés terem perdido o contacto com a superfície terrestre, ao olhar para trás em busca do seu amigo, um novo pânico instala-se, este já sem qualquer excitação, ao ver o Matias a cair a pique rumo ao chão. O resto da viagem decorreu em completo terror e este não tinha qualquer relação com a emoção de voar. Aliás, a emoção de voar foi completamente abafada pelo pavor de não saber sequer se o seu amigo teria sobrevivido à queda. Depois do que lhe pareceram horas, lá aterrou em segurança apenas para, depois de saber que o Matias  tinha sido levado para o hospital, disparar ao encontro do seu amigo.
Mais de três dias esteve o Bonifácio a velar o seu comatoso amigo, a chafurdar em culpa, sem nunca se ausentar mais que dez minutos. Durante este tempo, angustiado por não poder fazer mais, conversou constantemente com o Matias, que teimava em não reagir. Por fim, ao quarto dia, os olhos do Matias abriram-se lentamente, facto que causou ao Bonifácio algo próximo da euforia. Depois de alguns minutos a recuperar a consciência, os lábios do Matias mexeram-se, produzindo um som ténue que o Bonifácio tentou perceber aproximando o seu ouvido da boca do seu amigo.
Os olhos do Bonifácio brilharam ao ouvir as primeiras palavras que o seu amigo proferia depois do acidente. Com visível esforço, já que tinha o maxilar partido em três sítios, o que saiu da sua boca foi: “Quando é que vamos outra vez?”

1 comentário:

Anónimo disse...

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