O problema começou quando o cão-guia começou também a ficar cego. É que o cego tinha uma histérica fobia a cães e foi um verdadeiro problema para lhe arranjar aquele cão-guia. Tinha-o praticamente visto nascer, visto é uma maneira de dizer, claro... Tinha sido um processo moroso, de vários anos, em que treinaram homem e cão para que conseguissem trabalhar juntos. Este era o único cão em quem o cego conseguia confiar e estava fora de questão passar por tudo outra vez. Além do mais, o homem já estava apegado ao cão, era a sua única família. Em casa e nas redondezas, tudo corria bem, o cão já conhecia os cantos, não precisava de ver para guiar o homem, ou ir buscar-lhe o que precisasse. O problema era quando o homem tinha que ir a algum sítio mais distante. Andar de transportes tinha-se tornado impossível, o coitado do cão já não se orientava. Debateram a questão na associação e a única ideia minimamente séria foi arranjar um cão-guia para o cão. Ou um gato-guia, propôs nesciamente um idiota, mas toda a gente sabe que não se consegue treinar um gato! Houve ainda um engraçadinho que propôs que o cão tivesse um homem-guia, mas suponho que tenha sido uma piada. Conclusão, lá arranjaram um cão-guia para o cão cego, que por sua vez guiava o cego. Era uma imagem enternecedora, o cego, guiado pelo seu cão-guia cego que por sua vez levava na boca a trela do seu cão-guia.
Tudo funcionou às mil maravilhas e isso fez-me pensar, esta história tinha que ter uma moral... Se calhar devem ser os cegos a guiar os cegos...
terça-feira, 8 de abril de 2008
Cegos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário