quarta-feira, 29 de abril de 2009
O Olho
Era manhã cedo, estava ainda meio ensonado e não dei qualquer importância à pequena protuberância que senti no crânio enquanto me secava depois do banho. Era na parte lateral, mas suficientemente atrás para não a conseguir ver ao espelho. Uma borbulha, pensei na altura, e não liguei mais. Passados alguns dias, ao passar a mão pela cabeça, voltei a senti-la, parecia maior. Estranhei. Não me doía, mas aparentava estar a crescer. Há-de passar, pensei desta vez, com o meu inato optimismo.
Quando, passada mais de uma semana, voltei a reparar na protuberância, agora já algo do tamanho de um caroço de cereja, uma ponta de preocupação começou a instalar-se. Sempre odiei ir a médicos e só recorro a eles mesmo em casos de manifesta necessidade, por isso resisti à opção e decidi observar mais atentamente o desenvolvimento da situação. Nos dias seguintes, pela observação mais minuciosa do fenómeno, apercebi-me que realmente continuava a crescer e, no espaço de mais uma semana, a protuberância cresceu até ao tamanho de uma pequena azeitona.
Ainda numa posição de resistência a recorrer a um clínico, decidi recorrer à Sílvia, a minha barbeira, como eu lhe chamava, conseguindo uma espécie de tranquilidade infantil, considerando que já estava a recorrer a ajuda profissional. A tranquilidade durou pouco tempo, já que a opinião profissional da Sílvia, depois de observar a protuberância, foi que devia procurar um médico. Pedi que me cortasse o cabelo muito curto, de forma a poder observar melhor o alto.
Em casa, com a ajuda de dois espelhos, a protuberância pareceu-me muito maior do que aparentava ao senti-la com a mão. Ao contrário do que eu pensava, era já algo com um tamanho próximo de um berlinde, mas, na minha atitude normal de desleixo, achei que só parecia muito maior porque tinha agora o cabelo extremamente curto.
Só quando, passados mais alguns dias, calhou enrolar-me com a Ana que, ao pegar-me na cabeça para afundar a minha cara entre os seus seios, gritou assustada, dando um salto para trás, é que finalmente achei que era mesmo imperativo recorrer a ajuda médica. Mexeu-se, disse, horrorizada. É natural, estava a crescer, respondi atónito, já o tinhas sentido antes e nunca reagiste assim. O que é que se passa, perguntei com genuíno espanto. Não é isso, estúpido, respondeu com aquele tom que me fazia adorar quando me chamava aquilo, o alto na cabeça, mexeu-se! A sério, perguntei desconfiado, tens a certeza? Juro-te, senti nitidamente isso a mexer, e foi muito atrofiante. Desculpa lá mas isso cortou o clima e acho que vou andando, disse meio envergonhada, tens mesmo que ir mostrar isso a um médico. Vestiu a camisola à pressa e saiu, visivelmente transtornada. Já não era apenas um alto na cabeça, era algo que começava a interferir com a minha vida, e logo com uma parte que eu prezava bastante. Algo revoltado, decidi que teria mesmo que fazer alguma coisa. Quando, ao apalpar a protuberância, senti também algo a mover-se lá dentro, tive que recorrer a todo o meu sangue-frio para não entrar em pânico. Apesar disso, achei que não podia esperar mais e fui direito ao hospital.
Pois, de facto creio nunca ter visto nada assim, disse o médico, eu diria que era um quisto se não fossem estas pregas na pele que atravessam a protuberância, vamos fazer uma tomografia para podermos ver por dentro. Aguarde aqui um momento, por favor, concluíu enquanto saia para partilhar o caso com um colega. O outro médico entrou e observou-me também. Tem mais alguma coisa assim no resto do corpo, perguntou-me. Não, respondi, é só aí. Siga-me então, vamos fazer o exame.
Aguardava algo ansioso na sala de espera quando entrou o primeiro médico que me tinha examinado. Vinha com um ar algo espantado, o que me provocou algum temor. Faça favor, disse-me enquanto estendia a mão na direcção da sua sala. Entrei, ele entrou a seguir a mim, estendeu novamente a mão, agora na direcção da cadeira e eu sentei-me. O médico observou novamente o meu crânio por alguns momentos e sentou-se também. Depois de uma breve pausa, durante a qual me olhou com alguma estranheza, provocando-me um arrepio na coluna vertebral, quebrou o desconfortável silêncio. É um olho, disse algo bruscamente. Um olho?? Repeti perplexo. Sim, um olho, confirmou, e deixe-me que lhe diga que, em mais de trinta anos de medicina, nunca vi nada assim. Apesar da estranheza do caso, continuou, nem eu nem os colegas a quem pedi aconselhamento achamos que a situação representa algum perigo para a sua saúde, pelo que não pensamos haver razão para alarme. Faremos mais alguns exames e depois podemos discutir as suas opções, sendo que será provável a possibilidade de extracção cirúrgica. Numa questão de segundos imaginei-me um mutante metido numa sala de análise, observado através de um vidro por um magote de cientistas e a ideia assustou-me. Obrigado doutor, disse muito depressa enquanto me levantava, muito obrigado por tudo, voltei a dizer enquanto atravessava a porta em passo acelerado. Ainda o ouvi a pedir-me para esperar, mas não parei até chegar ao carro, onde me meti lestamente, voltando para casa.
Em casa, fiz o meu exame minucioso. Apalpei, olhei, e era nítido que o médico tinha razão, as pálpebras eram já perfeitamente distinguíveis, era mesmo um olho! Algo desnorteado, senti-me fraquejar com o choque e decidi que precisava de descansar. Pensaria no que fazer no dia seguinte.
Quando acordei, nos minutos em que lentamente recuperava a consciência, a minha mente conseguiu enganar-me fazendo-me pensar que toda a história do olho não tinha passado de um sonho, mas, não sei se ao recuperar a razão ou ao passar a mão pela cabeça, a realidade atingiu-me. Era real. Algo assustado, dirigi-me ao espelho e, novamente com a ajuda de outro pequeno espelho, observei demoradamente aquela coisa. O coração quase me saía pela boca quando o olho se abriu! O susto fez-me largar o pequeno espelho que se desintegrou no chão. Foda-se, mais azar, era mesmo o que eu precisava, consegui ainda pensar antes do pavor se apoderar de mim, ao sentir que efectivamente o olho se mexia. Sentia inequivocamente o olho a mexer-se na minha cabeça. Não era, no entanto, uma sensação desagradável, era apenas estranha. Ainda impulsionado pelo pânico, fiz rapidamente um penso com gaze e colei-o na cabeça, tapando o olho. Sentei-me na cama, tentei acalmar-me e pensar no que iria fazer, mas rapidamente se começou a apoderar de mim um estranho desconforto. Não era nada de muito incomodativo, era apenas uma sensação geral levemente desagradável da qual não conseguia perceber a origem e acabei por ignorá-la. Ainda sem saber o que fazer, voltei ao espelho e retirei o penso. Instantaneamente o desconforto desapareceu, tornando claro que se devia ao facto do olho estar tapado. Peguei no caco maior de entre os pedaços do outro espelho que se espalhavam pelo chão e tentei ver o olho. Senti as pernas a fraquejar ao vislumbrar o olho a mover-se freneticamente, olhando parar todo o lado como que tentado perceber o que se passava à sua volta. Mais uma vez o choque me fez largar o pedaço de espelho, que se dividiu em inúmeros pedaços ainda mais pequenos ao atingir o chão.
Abri a água e deixei a banheira encher enquanto varri cuidadosamente os cacos do espelho que se tinham projectado para todos os lados. Deitado na banheira, deixei os músculos descontraírem-se na água quente e, de uma forma semi-deliberada, decidi manter-me em negação em relação à minha condição e fazer a minha vida normalmente. Sequei-me, vesti-me, voltei a tapar o olho com o penso e saí para comer qualquer coisa. O desconforto voltou, comprovando que era provocado pelo tapar daquele estranho olho, mas eu resisti-lhe. Tomei o pequeno-almoço e decidi passear um pouco enquanto fumava um cigarro, mas, apesar de não ser muito desagradável, não conseguia abstrair-me do constante desconforto. Continuei, no entanto, a achar que conseguia continuar a minha vida normalmente. Diria às pessoas que tinha uma ferida ou qualquer coisa assim e viveria normalmente.
Assim fiz. Continuei a minha vida, mas com uma diferença, estava sempre ansioso para ir para casa e poder retirar o penso e fazer desaparecer aquele desconforto. Em casa, depois de ter reposto o espelho partido, passava bastante tempo a observar o estranho olho. Movia-se, parecia mesmo observar o que nos rodeava, mas eu não conseguia ver por ele, era como se fosse independente de mim. Comecei a aceitar que não poderia continuar a viver assim, lembrei-me do episódio com a Ana e percebi que mais tarde ou mais cedo este estranho fenómeno iria ter impactos negativos na minha vida. Apesar disso, mantinha alguma resistência em recorrer a ajuda clínica, não queria ser um objecto de pesquisa, e muito menos ser visto como uma aberração. Para recorrer a médicos, tem que ser numa perspectiva de remover isto sem mais demoras nem exames, pensei enquanto observava o olho na sua aparente azáfama de absorver tudo o que conseguisse visualizar. Estranhamente, senti que não me deveria precipitar, que o aparecimento do estranho apêndice visual poderia trazer-me algum benefício e que poderia via a arrepender-me. Por alguns momentos fantasiei com a ideia de passar a conseguir ver através daquele olho e achei que a possibilidade tinha potencial. Decidi continuar a observar o desenvolvimento do fenómeno antes de tomar uma decisão.
Os dias foram passando e comecei a aperceber-me que, de certa forma, estava a deixar que aquele olho manipulasse a minha vida. Sempre que estava fora de casa, so pensava em voltar para poder retirar o penso e acabar com aquela estranha sensação desconfortável. Tinha também bastantes reservas em partilhar a minha situação com mais alguém, já que achava muito provável que me vissem como algo grotesco. Estava cada vez mais sozinho e um dia obriguei-me a tomar uma decisão. À noite, sentado na cama, prometi a mim mesmo que no dia seguinte procuraria um médico que me extraísse aquilo. Esforcei-me por afastar a sensação de que poderia ainda ter alguma vantagem em ter um olho na parte posterior da cabeça dizendo a mim próprio que tal teria o amargo preço de me tornar, para sempre, uma aberração. Decidido, deitei-me e tentei dormir.
Abri os olhos e a claridade invadiu-me as retinas. Sentia-me estranhamente bem. Estiquei os braços e espreguicei-me vagarosamente. Com uma inspiração profunda, elevei-me e sentei-me na cama. Apercebi-me que, de facto, me sentia maravilhosamente, tanto física, como psicologicamente. Levei a mão à cabeça e fiquei quase eufórico ao perceber que não sentia lá nada de anormal. Passou! Pensei, radiante, Passou! Levantei-me pleno de energia, mas o meu queixo caíu quando olhei para a cama. Ainda meio coberto pelo lençol, estava o que aparentava ser um corpo vazio. Era eu! Era a minha casca vazia que jazia na cama, com um enorme buraco na cabeça.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
È frutó chicolate....
Olha a batatinha frita... que é como quem diz
É pró menino e prá menina, ou ainda Jarvis com e sem Beth
http://www.youtube.com/watch?v=sDkJW2Tyv5M
http://www.youtube.com/watch?v=oP2bRqYVqxo
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Curtas
Mãos que me agarram
As mãos que me calam quando me rasgam e me prometem o êxtase final
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Hoje, só porque posso, apeteceu-me publicar isto
Sie stehen eng umschlungen
Ein Fleischgemisch so reich an Tagen
Wo das Meer das Land berührt
Will sie ihm die Wahrheit sagen
Doch ihre Worte frisst der Wind
Wo das Meer zu Ende ist
Hält sie zitternd seine Hand
Und hat ihn auf die Stirn geküsst
Sie trägt den Abend in der Brust
Und weiß dass sie verleben muss
Sie legt den Kopf in seinen Schoß
Und bittet einen letzten Kuss
Und dann hat er sie geküsst
Wo das Meer zu Ende ist
Ihre Lippen schwach und blass
Und seine Augen werden nass
Der letzte Kuss ist so lang her
Der letzte Kuss, er erinnert sich nicht mehr
http://www.youtube.com/watch?v=2JOdaDMrzeQ
terça-feira, 21 de abril de 2009
Curtas
Me mistura e revolve numa espiral de loucura
Que me abafa e amordaça a dor e o prazer
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Sonhos
Mais uma para o meu piteco.
Quem é que esteve na sala dos sonhos? Perguntou o enorme zurbalino com a sua voz grave e possante. Os parrecos entreolharam-se com ar interrogativo durante alguns instantes e, alguns deles encolhendo os ombros, voltaram todos a face na direcção do zurbalino. Alguém roubou um sonho, continuou o zurbalino antecipando a pergunta óbvia, e ninguém sai daqui enquanto não se descobrir quem foi. Contagem! Disse em tom autoritário. Numa reacção imediata, todos os parrecos se colocaram lado a lado em fila. Um! Disse o primeiro parreco enquanto dava um leve piparote na nuca do companheiro ao seu lado. Dois! Disse o segundo, imitando o gesto. Todos os parrecos cumpriram na sua vez, até que o último gritou alto: noventa e nove! Noventa e nove? Repetiu, admirado, o zurbalino. Falta um! Quem?? Gritou. Alguns instantes depois, durante os quais os parrecos voltaram a entreolhar-se, eis que aparece o que faltava, a apertar as calças. O que é que se passa? Já não se pode ir à casa de banho? Perguntou desconfiado ao aperceber-se que todos os olhares incidiam em si.
Afinal parece que estão cá todos, disse o zurbalino, pondo fim ao burburinho que se tinha instalado. O que eu sei é que antes do meu intervalo todos os sonhos estavam no sítio, continuou, caminhando vagarosamente entre os parrecos, e quando voltei, faltava um! Levantou a voz em tom dramático ao terminar a frase. Eu sou um zurbalino compreensivo, continuou, sei que uma sala repleta de sonhos é uma tentação, mas vocês têm que perceber que um sonho não serve para nada se não soubermos o que fazer com ele. Espero que quem o tirou compreenda isso e vou dar-lhe uma oportunidade de se arrepender. Vou dar uma volta até lá fora e espero que, quando voltar, o sonho esteja novamente no sítio. Se isso acontecer, eu esqueço toda a questão, concluiu enquanto dava meia volta e se retirava. Nenhum dos parrecos se mexeu até ao regresso do zurbalino, que, com um visível esforço para manter a calma disse: já vi que o sonho não foi restituído, terei que adoptar medidas mais drásticas. Vocês, parrecos, são muito previsíveis, e não será nada difícil elaborar um método para descobrir qual de vocês é que tem um sonho que não lhe pertence, disse o zurbalino em tom ameaçador, mas a verdade é que não tinha qualquer ideia sobre como fazê-lo. Todos de volta ao trabalho, ordenou, e ninguém sai daqui até eu voltar! Depois de alguns momentos de desorganização, todos os parrecos retomaram os seus lugares e continuaram o seu labor. Com um suspiro, o zurbalino recolheu-se para a sala dos sonhos para pensar numa solução.
Sentado na sua cadeira, como que em busca de inspiração, o zurbalino contemplou os sonhos, meticulosamente organizados nas prateleiras que revestiam todas as paredes. O que é que torna um parreco com um sonho diferente dos restantes? Perguntou, em voz alta, a si mesmo. Haverá certamente uma forma de o detectar, continuou, mas já sem verbalização. De repente, os seus olhos frontais brilharam. É isso, disse levantando-se energicamente, e é tão simples. Basta-me perguntar-lhes o que desejam, certamente o que tiver o sonho vai dizer algo mais elaborado que os outros. Seguro do sucesso da sua ideia, entrou de rompante na oficina dos parrecos, com um sorriso algo maquiavélico. Quero todos em fila para falar com vocês um a um, disse alto. Numa questão de segundos, todos os parrecos estavam alinhados e prontos para o interrogatório. Perguntou a cada um o que desejava e desmoralizou ao receber de todos praticamente a mesma resposta. Todos os parrecos responderam que a única coisa que desejavam era trabalhar na fábrica de sonhos. Frustrado, o zurbalino voltou para a sua sala sem proferir outra palavra.
Menosprezei-o, pensou, já sentado na sua cadeira, ele percebeu que se denunciaria se fosse sincero e respondeu o que sabia que devia responder. Não estou a lidar com um parreco normal… Claro que não estou a lidar com um parreco normal, disse para si, reprimindo-se, a um parreco normal não lhe ocorreria roubar um sonho, estou a lidar com um degenerado, e descobri-lo vai ser um verdadeiro desafio. Tenho que pensar noutra solução. É isso! Disse o zurbalino, saltando da cadeira. Um parreco normal não tem aspirações, mas um que deseja ter um sonho terá de certeza. Vou montar-lhe uma armadilha, anuncio a criação do cargo de líder dos parrecos e ele de certeza que não vai resistir, pensou, com um semblante algo malévolo.
Com ar casual, o zurbalino dirigiu-se à oficina e afixou, falsamente desinteressado, o aviso que tinha composto para servir de isco à sua armadilha. Ficou à espreita e, quando verificou que os parrecos se dirigiam ao aviso, voltou para a sua sala com um sorriso triunfante. É uma questão de tempo até te apanhar, disse o zurbalino num murmúrio, enquanto se sentava. Só me resta esperar, pensou satisfeito. As horas passaram e nenhum dos parrecos apareceu. É mais inteligente que eu pensava, disse, irritado, o zurbalino, falando sozinho. Ou então menosprezei o poder do sonho que ele levou, também pode ser isso, continuou em voz alta, como se estivesse de facto a dialogar consigo próprio e esperasse uma opinião. É isso, a um parreco com um sonho verdadeiro não deve parecer minimamente apelativo ser o líder dos parrecos. Não posso mesmo menosprezar nem este parreco, nem o poder de um sonho. Se calhar estou a dar demasiada importância a isto, talvez o melhor seja não fazer nada e esperar que ele se denuncie. Ele não há-de conseguir resistir para sempre ao poder do sonho e, quando tentar alguma coisa, eu apanho-o. Com este pensamento, o zurbalino deixou-se afundar na cadeira e tentou descontrair. Passando casualmente o olhar pelo monitor que mostrava a oficina, reparou que, enquanto todos os restantes trabalhavam concentrados, um dos parrecos olhava distraidamente para o infinito. Rapidamente o parreco voltou ao trabalho e deixou de se distinguir dos demais, mas algo se iluminou na mente do zurbalino. Porque é que nos matamos a pensar em formas elaboradas e complicadas de resolver os nossos problemas quando a solução normalmente nos surge quando não nos estamos a esforçar para isso? Ponderou o zurbalino. E a verdade é que as soluções normalmente são extremamente simples, mas a nossa tendência para complicar impede-nos de chegar a elas, continuou, bastava-me observar os parrecos à procura de um ar sonhador, tão simples como isso. A verdade é que nunca tinha visto qualquer utilidade neste monitor, nunca tinha tido qualquer tipo de problema com os parrecos, disse para si próprio em jeito de desculpa, e por isso nem me ocorreu usá-lo. Manteve o olhar na imagem e, confirmando a sua teoria, aquele parreco voltou a passar alguns instantes a olhar para o infinito, como que embrenhado em pensamentos. Satisfeito, o zurbalino dirigiu-se à oficina e, subtilmente, disse àquele parreco que fosse até à sua sala e que esperasse por ele, pois precisava de lhe falar. O parreco retirou-se obedientemente e o zurbalino perdeu alguns momentos a informar os outros parrecos que a situação estava resolvida e que podiam retomar o trabalho sem se preocuparem mais com a questão do sonho roubado. Quando se dirigia para a sua sala, meditando sobre a melhor maneira de lidar com o prevaricador, eis que só consegue vislumbrar ao longe o parreco ladrão a sair a correr da sua sala com todos os sonhos que conseguia carregar. Correu o mais que podia, mas o seu corpo volumoso não o permitiu apanhar o parreco antes de este chegar ao pátio. O que é que estás a fazer? Gritou o zurbalino. Sabes que não tens por onde escapar. Quem disse que eu quero escapar, respondeu, seguro, o parreco, eu só quero soltar os sonhos. Soltá-los?? Repetiu, atónito, o zurbalino, porque é que alguém quereria fazer uma coisa dessas? Para que eles possam chegar a qualquer pessoa, retorquiu muito depressa o parreco. Mas isso é uma estupidez, continuou, algo aflito, o zurbalino, é um desperdício gastar um sonho em alguém que não o vai usar devidamente. Quem és tu para saber se alguém merece um sonho ou não? Perguntou o parreco de forma cortante. E mesmo que não se use devidamente, mais vale ter um sonho que não se usa do que não ter nenhum. Nem sei porque estou a debater isto contigo, disse rispidamente o zurbalino, não tens por onde fugir, portanto entrega-me os sonhos e eu serei benevolente. Podes apanhar-me a mim, respondeu o parreco em tom desafiador, mas pelo menos estes sonhos serão livres de ser encontrados por qualquer pessoa, quer saiba o que fazer com eles ou não. Dito isto, o parreco começa a correr à volta do pátio, soltando os sonhos que flutuavam para longe. Não! Gritou o zurbalino enquanto, trôpego, corria na tentativa de os apanhar. Depois de soltar todos os sonhos, o parreco retirou do bolso aquele que tinha roubado inicialmente. Gostava muito de ficar contigo, disse ao sonho, mas já que eu não sou livre, tu podes sê-lo, faz alguém feliz, gritou enquanto o libertava. O sonho, em vez de flutuar para longe como os outros, começou a crescer, a crescer, até que acabou por envolver o parreco e ambos levantaram vôo. O parreco não conseguiu segurar uma genuína gargalhada ao ver o zurbalino lá em baixo a praguejar, agitando um dos seus braços, de punho fechado no ar. Passados alguns momentos, derrotado, o zurbalino deixou cair os braços e deixou-se ficar a ver o parreco, envolto no seu sonho, a afastar-se cada vez mais, até desaparecer no horizonte para nunca mais ser visto.
terça-feira, 14 de abril de 2009
E ela
E ela adora
E ela adora chorar
E ela coitada
E ela deitada
E ela adora que todos a vejam estar para ali a soluçar
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Excerto da Balada
José Cardoso Pires - "Balada da Praia dos Cães"
The lost adventures of Bill & Ted... Finally re-found!
http://nl.truveo.com/The-Lost-Adventures-Of-Bill-and-Ted-Episode-513/id/532111920
http://www.owensworld.com/flashmovies/categorie-8-1.htm
:D
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Hilarious #4 & #5
Hi my new friend!
I only wished to write to you the letter and to tell as in general my letter got to you! First I would like to speak a little about myself my name is Nadejda to me 29 years I live in Russian Federation to Kazan. All the others my data and a photo in the appendix to the letter data which is called (my_data_full). I was in International Dating Agency and to me advised yours e-mail the address I do not know whence they him took but they gave me yours e-mail that I could have acquaintance to you. And I only wanted that you have spent about 10 minutes both looked my a photo and my data and received from you the answer you would like to have acquaintance to me or you only would not like this? Tell to me I so only the nobility it much would like. Also I shall wait much your answer. I started to search the man as to me very alone and 29 years and I do not have man if you wish to begin with me correspondence or easier to begin acquaintance tell to me your answer. I shall wait much! I hope your new friend well I hope that I can become for you friend Nadejda!
Can you send me you photo and story life on my e-mail: nadejdalove2009@gmail.com
P. S. My photo and all data are in archive.
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Hello
My name is: Olga I from Russia city: Perm It washing a photo To me 27 years and I very much would like to find second half for very serious relations To me have told that on the Internet is possible will get acquainted with the good person for an opportunity creation of family.
At me a lot of familiar which have got acquainted on the Internet with men have left abroad because loved each other I very much would like to create family.
I not when was not married and I have no children.
But me of it therefore very much would be wanted try to find the man of the dream I very much would wish to be friends of you and if it is pleasant to you washing a photo write to me I shall necessarily answer you and to this I shall be very glad.
I very much to wait the letter from you
At us very much a big difference in time but I shall try to speak with you as it is possible is more often
Write to me only to my personal e-mail: ladwertana@gmail.com
It is a lot of kisssssYours Olga
Hilarious #3
Greetings my lonely friend!!! I Saw your structure today, and it has very strongly interested me!!!! So I have decided to write to you! I would like to get acquainted very strongly with you, for following our firm communications! You as can look at my structure. I think that that it as can interest you! For our first acquaintance I to you to tell it is a little about myself. To me of 29 years. I have a harmonous figure, I learn me with sports and I to conduct a healthy way of life. I shall tell to you more about myself in my first letter to you!!! If my structure of you was interested also by you to want to have with me to correspond that you could write to me on my letter box:. I cannot answer on this web-page of acquaintances to you as I understand here poorly. The best around of much if you will write to me on my electronic address!!
Thus I can answer precisely to you! My friend, I very much hope me, that you can write to me the letter to my personal e-mail: daryafilli@yahoo.co.uk
! Then I shall write to you more about me and to send you my photo!!! I wish you good afternoon with intimate greetings your new girlfriend Darya !!
Hilarious #2
Hello friend!
This morning, I have received love the Internet dispatch, from the unknown person to me the addressee. In the given letter, it was spoken about love relations between people. In the list e-mail addressees, I have seen your address. I long thought before writing to you.
I will tell slightly about myself. My name is Mariya. I am 30 years old. I can tell about myself that i am interesting woman with good character, sense of humor, opens in dialogue. I search for serious relations and I will be happy to learn you closer. I don't think that the age and appearance is so important though I am rather pretty. The most important what is inside you and how do you feel about the life.
I know this life from many sides and I am rather mature already to know how to make a man happy. I am interested in acquaintance with you. I have no children, but I want to have children from correct men sometime soon. I search for serious relations and I will be happy to learn you closer. It will be fine if we can exchange some letters and photos. What you search in the woman Tell more about a place where do you live. I will look forward to hearing from you. Ask any questions which interest you. Write me back and I will tell more about me, my life and send me photos. I don't know if you answer me or not. But why not to try? I will regret if not to try. I think we should use every chance to find our happiness. Life is too short to use it only for thinking and dreaming.
Write me your E-mail or please write me only to my personal e-mail: telkasuper@gmail.com I still hope for your reply. Have a good day!!!!!!!
I will finish here. Waiting for the answer with impatience.
Mariya.
terça-feira, 7 de abril de 2009
segunda-feira, 6 de abril de 2009
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Agostinho da Silva
Milhões de homens, porém, no mundo actual estão incapacitados de escrever e de ler, muito menos porque faltam métodos e meios do que incitamento que os levante acima do seu tão difícil quotidiano e vontade de quem mais pode de que seus reais irmãos mais dependam de si próprios do que de exteriores e quase sempre enganadoras salvações. Mais se comunica falando do que de qualquer outra forma; o que nos dizem muitas vezes nos parece de nenhuma importância, mas talvez tenha havido uma falha na atitude de escutar do que no conteúdo do que se disse; porventura a palavra-chave estava aí, mas estávamos distraídos, ou ansiosos por nós próprios falarmos; e no vento fugiu, a outros ouvidos ou a nenhuns. Ouça. No tempo em que a antropologia ainda julgava que o homem descendia do macaco notou-se, para os distinguir, que um, mesmo no estádio mais primitivo, desenhava; o outro, mesmo que antropóide superior, nem olhava o desenho. Imagem nos veio acompanhando pela História fora, desde as pinturas ou gravuras rupestres, cujo verdadeiro significado ainda está por encontrar, até cinema ou televisão, sobre cujo significado igualmente muitas vezes nos podemos interrogar e que se tem de arrancar o mais depressa possível ao domínio do lucro, da publicidade ou das propagandas ideológicas para que possam cumprir, como nas formas mais antigas, a sua missão de iluminar, inspirar e consagrar o mundo. Imagem o cerca. Veja. Mas o que vê e ouve ou lê nada mais lhe traz senão matéria-prima de pensamento, já livre de muita impureza de minério bruto, porquanto antes do seu outros pensamentos o pensaram; mas, por o pensarem, alguma outra impureza lhe terão juntado. Nunca se precipite, pois, a aderir; não se deixe levar por nenhum sentimento, excepto o do amor de entender, de ver o mais possível claro dentro e fora de si; critique tudo o que receba e não deixe que nada se deposite no seu espírito senão pela peneira da crítica, pelo critério da coerência, pela concordância dos factos; acredite fundamentalmente na dúvida construtiva e daí parta para certezas que nunca deixe de ver como provisórias, excepto uma, a de que é capaz de compreender tudo o que for compreensível; ao resto porá de lado até que o seja, até que possa pôr nos pratos da sua balancinha de razão. A tudo pese. Pense."
Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'