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:D
sexta-feira, 25 de maio de 2007
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Nevrostalgia
– Doutor, quero apagar todas as minhas recordações boas.
– Como??? Apagar as recordações boas??
– Sim, quero eliminar todas as minhas recordações agradáveis!
– Mas isso além de absurdo é muito perigoso. Os equipamentos para manipulação de memórias ainda não são cem por cento fiáveis, principalmente num caso em que será necessária uma extrema precisão na selecção das memórias a eliminar. Do meu conhecimento, estes processos são apenas usados em casos traumáticos graves, e nesse caso a memória do trauma é facilmente distinguível por entre as outras.
– Quer portanto dizer que é possível.
– Os riscos do que me está a pedir podem ir desde eliminarmos memórias que não queríamos, até ficar num estado vegetativo. Possivelmente até mesmo a morte!
– Estou disposto a correr qualquer risco! Não aguento mais.
– Não consigo conceber porque uma pessoa poderá querer eliminar as suas boas recordações, muito menos correndo o risco de ficar com graves danos cerebrais. Além do mais, seria um processo extremamente moroso e dispendioso.
– Não aguento mais a nostalgia, doutor; as minhas boas recordações fazem-me sofrer. Eu gosto de me divertir, gosto do momento em que me divirto; mas lembrar-me posteriormente desse momento faz-me sofrer desmesuradamente, e quanto mais feliz for a recordação, pior! E porquê? Não preciso da recordação de um momento feliz, basta-me viver o momento e depois não me lembrar mais disso. Para quê a recordação se apenas nos traz nostalgia.
– Creio que começo a compreender, mas a verdade é que é impossível prever o efeito de um processo desses. Como se comportará um cérebro humano desprovido de qualquer memória agradável? Pode entrar numa espiral depressiva, ficar até com tendências suicidas, por exemplo.
– Certo, também não é preciso serem todas as recordações agradáveis, só aquelas mesmo, mesmo boas, as que deixam saudade. Podem perfeitamente ficar aquelas menos importantes, coisas que achei piada, conversas, etc. Momentos agradáveis, mas que não tenham sido tão marcantes. Só não quero as que me fazem sofrer por querer vivê-las novamente e não poder.
– Sabe, essa ideia que ao princípio me pareceu completamente absurda, começa a fazer cada vez mais sentido. Creio até que, activando a memória e registando a sua reacção a ela, conseguimos distinguir bastante bem as que o fazem sofrer. Talvez a selecção não seja tão difícil como imaginei.
– Por favor, doutor. A minha felicidade depende disso!
– Isto de facto não é tão estúpido como parece, quem sabe não estamos a inventar um processo que se tornará corrente. Deve haver mais gente com esse desejo… Realmente… Para que é que eu quero recordações que me deixam melancólico? Se não me lembrar delas também não lhes sinto a falta… Sabe, acho que alinho consigo. Vou também submeter-me a isso!
– Como??? Apagar as recordações boas??
– Sim, quero eliminar todas as minhas recordações agradáveis!
– Mas isso além de absurdo é muito perigoso. Os equipamentos para manipulação de memórias ainda não são cem por cento fiáveis, principalmente num caso em que será necessária uma extrema precisão na selecção das memórias a eliminar. Do meu conhecimento, estes processos são apenas usados em casos traumáticos graves, e nesse caso a memória do trauma é facilmente distinguível por entre as outras.
– Quer portanto dizer que é possível.
– Os riscos do que me está a pedir podem ir desde eliminarmos memórias que não queríamos, até ficar num estado vegetativo. Possivelmente até mesmo a morte!
– Estou disposto a correr qualquer risco! Não aguento mais.
– Não consigo conceber porque uma pessoa poderá querer eliminar as suas boas recordações, muito menos correndo o risco de ficar com graves danos cerebrais. Além do mais, seria um processo extremamente moroso e dispendioso.
– Não aguento mais a nostalgia, doutor; as minhas boas recordações fazem-me sofrer. Eu gosto de me divertir, gosto do momento em que me divirto; mas lembrar-me posteriormente desse momento faz-me sofrer desmesuradamente, e quanto mais feliz for a recordação, pior! E porquê? Não preciso da recordação de um momento feliz, basta-me viver o momento e depois não me lembrar mais disso. Para quê a recordação se apenas nos traz nostalgia.
– Creio que começo a compreender, mas a verdade é que é impossível prever o efeito de um processo desses. Como se comportará um cérebro humano desprovido de qualquer memória agradável? Pode entrar numa espiral depressiva, ficar até com tendências suicidas, por exemplo.
– Certo, também não é preciso serem todas as recordações agradáveis, só aquelas mesmo, mesmo boas, as que deixam saudade. Podem perfeitamente ficar aquelas menos importantes, coisas que achei piada, conversas, etc. Momentos agradáveis, mas que não tenham sido tão marcantes. Só não quero as que me fazem sofrer por querer vivê-las novamente e não poder.
– Sabe, essa ideia que ao princípio me pareceu completamente absurda, começa a fazer cada vez mais sentido. Creio até que, activando a memória e registando a sua reacção a ela, conseguimos distinguir bastante bem as que o fazem sofrer. Talvez a selecção não seja tão difícil como imaginei.
– Por favor, doutor. A minha felicidade depende disso!
– Isto de facto não é tão estúpido como parece, quem sabe não estamos a inventar um processo que se tornará corrente. Deve haver mais gente com esse desejo… Realmente… Para que é que eu quero recordações que me deixam melancólico? Se não me lembrar delas também não lhes sinto a falta… Sabe, acho que alinho consigo. Vou também submeter-me a isso!
sexta-feira, 18 de maio de 2007
Postal dos Correios
Faltavam apenas dois dias para o fim do prazo em que seria suposto a encomenda chegar. Por acaso desta vez nem estava muito ansioso, estava até mentalizado que poderia ficar retida na alfândega, demorando bastante mais tempo a chegar; estava portanto, preparado para esperar.
Dado que enquanto há vida há esperança, pensei que sorte seria se chegasse naquele dia. Iria sair tarde de casa, e assim o carteiro poderia entregar-ma pessoalmente, evitando assim a ida à estação dos correios que, como é apanágio deste nosso povo, tem um horário totalmente incompatível com quem trabalha.
O tempo passou e lá fui, lamentando a minha esperança não se ter concretizado. Quando voltei, com algum espanto, encontro o postal. A encomenda tinha chegado e o FDP do carteiro atrasou-se naquele dia! Porra, que até quando tenho sorte tenho que ter azar!!
Dado que enquanto há vida há esperança, pensei que sorte seria se chegasse naquele dia. Iria sair tarde de casa, e assim o carteiro poderia entregar-ma pessoalmente, evitando assim a ida à estação dos correios que, como é apanágio deste nosso povo, tem um horário totalmente incompatível com quem trabalha.
O tempo passou e lá fui, lamentando a minha esperança não se ter concretizado. Quando voltei, com algum espanto, encontro o postal. A encomenda tinha chegado e o FDP do carteiro atrasou-se naquele dia! Porra, que até quando tenho sorte tenho que ter azar!!
quinta-feira, 17 de maio de 2007
Ascenção
Hoje nem sequer devíamos estar a trabalhar… Só me apraz apregoar sonoramente aos ventos: “Maio com meu amigo quem dera já, sempre no mês do trigo se cantará…”
Quinta-feira da Ascensão, Dia da Espiga
O mês de Maio está tradicionalmente recheado de festas solares, próprias de uma sociedade rural e pastoral, ancestralmente ligadas às tradições druídicas dos nossos ancestrais celtas. No calendário celta, Maio era o primeiro mês do ano e chamava-se Cend uin, que significava exactamente o primeiro mês, ou o primeiro tempo, daí a festa dos druídas chamada Bé-il-tin, no primeiro dia de Maio.
Em Portugal, segundo Teófilo Braga, este dia era comemorado em todo o país. Era a festa do Maio ou das Maias, consoante as regiões. Toda a festa revela um culto das flores, expressando-se através do enfeitar de crianças, ou até de espantalhos, com colares e outros adornos florais.
A Quinta-feira de Ascensão assinala, no calendário cristão, o fim do ciclo de quarenta dias iniciado com a Páscoa mas, além das cerimónias religiosas – com destaque para a missa da hora (do meio dia à uma), cujo simbolismo era muito forte e assinalado com o derramar de flores sobre os circunstantes – está também associada a um conjunto de práticas antigas, cujo significado preciso é por vezes difícil de determinar mas que se fundem em sentidos mágicos e religiosos complexos.
Nas regiões do Sul de Portugal esta data é mais conhecida por Dia da Espiga e as pessoas vão ao campo “apanhar a espiga”, o que significa arranjar um ramo composto fundamentalmente por espigas de trigo, um ramo de oliveira e vários tipos de flores. Além do trigo, podem incluir-se outros cereais e, as flores, muito variáveis, incluem sempre cores brancas e amarelas pois, tal como o ramo de oliveira e a espiga de trigo significam abundância de azeite e de pão, as flores amarelas e brancas significam ouro e prata. O ramo é guardado em casa até ao ano seguinte, às vezes junto de um pedaço de pão que se acredita conservar-se incorruptível até ser comido no próximo ano.
Nalguns sítios, pedaços deste ramo são colocados nas hortas e cearas com intenções protectoras, pois acredita-se nas suas virtudes benfazejas.
Noutras regiões há um cerimonial ligado ao leite, por exemplo oferecendo-se a ordenha desse dia ao povo.
Nas aldeias do concelho de Abrantes, como região de confluência, estes costumes, hoje em desuso, também eram muito variados mas, de uma maneira geral, a Quinta-feira de Ascensão, como culminar das festividades florais e campestres do Maio, era um dia em que não se trabalhava, em que as pessoas faziam piqueniques no campo e apanhavam a espiga, que interpretavam como um talismã propiciador de fartura.
Quinta-feira da Ascensão, Dia da Espiga
O mês de Maio está tradicionalmente recheado de festas solares, próprias de uma sociedade rural e pastoral, ancestralmente ligadas às tradições druídicas dos nossos ancestrais celtas. No calendário celta, Maio era o primeiro mês do ano e chamava-se Cend uin, que significava exactamente o primeiro mês, ou o primeiro tempo, daí a festa dos druídas chamada Bé-il-tin, no primeiro dia de Maio.
Em Portugal, segundo Teófilo Braga, este dia era comemorado em todo o país. Era a festa do Maio ou das Maias, consoante as regiões. Toda a festa revela um culto das flores, expressando-se através do enfeitar de crianças, ou até de espantalhos, com colares e outros adornos florais.
A Quinta-feira de Ascensão assinala, no calendário cristão, o fim do ciclo de quarenta dias iniciado com a Páscoa mas, além das cerimónias religiosas – com destaque para a missa da hora (do meio dia à uma), cujo simbolismo era muito forte e assinalado com o derramar de flores sobre os circunstantes – está também associada a um conjunto de práticas antigas, cujo significado preciso é por vezes difícil de determinar mas que se fundem em sentidos mágicos e religiosos complexos.
Nas regiões do Sul de Portugal esta data é mais conhecida por Dia da Espiga e as pessoas vão ao campo “apanhar a espiga”, o que significa arranjar um ramo composto fundamentalmente por espigas de trigo, um ramo de oliveira e vários tipos de flores. Além do trigo, podem incluir-se outros cereais e, as flores, muito variáveis, incluem sempre cores brancas e amarelas pois, tal como o ramo de oliveira e a espiga de trigo significam abundância de azeite e de pão, as flores amarelas e brancas significam ouro e prata. O ramo é guardado em casa até ao ano seguinte, às vezes junto de um pedaço de pão que se acredita conservar-se incorruptível até ser comido no próximo ano.
Nalguns sítios, pedaços deste ramo são colocados nas hortas e cearas com intenções protectoras, pois acredita-se nas suas virtudes benfazejas.
Noutras regiões há um cerimonial ligado ao leite, por exemplo oferecendo-se a ordenha desse dia ao povo.
Nas aldeias do concelho de Abrantes, como região de confluência, estes costumes, hoje em desuso, também eram muito variados mas, de uma maneira geral, a Quinta-feira de Ascensão, como culminar das festividades florais e campestres do Maio, era um dia em que não se trabalhava, em que as pessoas faziam piqueniques no campo e apanhavam a espiga, que interpretavam como um talismã propiciador de fartura.
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