quarta-feira, 4 de março de 2009

Presenças #6

O canto dos pássaros, logo pela primeira luz da madrugada, acordou-me. Calmamente abri os olhos e gelei instantaneamente ao vislumbrar uma figura que pairava à minha frente a cerca de um metro do chão. Conseguia distinguir um rosto de feições simples, mas o corpo não passava de uma massa disforme e ondulante. Além dos seus grandes olhos, pouco mais se distinguia que uma pequena fenda que identifiquei como sendo uma boca. No entanto, apesar de atemorizante, a figura tinha uma estranha beleza. Uma beleza que conseguiu transmitir-me tranquilidade e aos poucos consegui recuperar a calma e controlar o medo. Deixei-me ficar deitado no sofá, a observar a estranha aparição, sem saber se se teria já apercebido que eu tinha acordado. Depois de terem passado o que me pareceu cerca de dez ou quinze minutos, estremeci ao ver o rosto da figura esboçar o que me pareceu um sorriso. Levantei a cabeça para ver melhor mas no segundo seguinte a figura já não estava lá. Pareceu-me que, no entanto, ainda se manteve durante perto de um minuto, um brilho arrepiante no local onde estavam os olhos da aparição, que me destruiu toda a tranquilidade que tinha conseguido adquirir.
Tentei recuperar a compostura. Desta vez não iria conseguir fazer-me acreditar que tinha sido apenas um sonho, tinha a certeza que estava perfeitamente acordado. Ponderei que, na realidade, não me tinha ainda acontecido nada que me tivesse feito pensar que estaria realmente em perigo. O medo que sentia era pelo desconhecimento do que me estava a acontecer, pela estranheza dos fenómenos, e pensei que talvez não tivesse razões muito válidas para o ter. Se a entidade, para usar o termo da crioula, me quisesse fazer mal, já tinha tido varias oportunidades. Lembrando-me das palavras da enorme africana, disse a mim próprio que o facto de ainda não me ter prejudicado, não implicava que tivesse boas intenções, mas achei que o terror que os fenómenos me inspiravam não teria muita razão de ser e decidi tentar controlá-lo. E talvez nem fosse difícil, porque por muito estranho que pareça, a verdade é que, começava a ficar algo habituado. Ponderei se teria coragem para tentar comunicar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Contínuo bastante curiosa :) mas estou a gostar bastante