sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Monodiálogo #2

- Então, como é que vai isso?

- ...

- Porque é que estás com essa cara de espanto? Nunca tinhas conversado contigo próprio?

- Sim, muitas vezes... Mas isto é ridículo!

- Não sei porque há-de ser ridículo. É a mesma coisa.

- Não é bem a mesma coisa. Nos outros diálogos que tenho comigo, sou eu quem decide o que é dito. E não me parece que esteja a decidir o que tu dizes.

- Isso é porque eu não sou o teu consciente. Mas sou na mesma tu.

- És o meu subconsciente?

- Algo do género. Se quisermos ser mesmo específicos, sou aquilo que existe na tua mente entre o inconsciente e o subconsciente, mas um bocado mais para o lado do subconsciente. Ali mais para o lado do inconsciente mora o meu irmão, mas ele não gosta muito de aparecer.

- OK... Então e... O que te traz aqui?

- Venho alertar-te para a batalha que se avizinha.

- Batalha?

- Sim, uma batalha de cujo desfecho depende a tua liberdade de pensamento.

- Explica lá isso melhor...

- Até há pouco tempo viviamos cá todos em perfeita harmonia. Toda a gente fazia a sua parte e se dava bem. Mas o equilíbrio começou a desaparecer quando alguns de nós decidiram tentar assumir um controlo total. Acredita que não queres que consigam, não ias gostar daquilo em que te tornariam.

- Mas... Nós, quem?

- Nós, tu. Ou pensas que uma pessoa é algo uno, indivisível? Nada disso, tu és o produto resultante da conjugação das inúmeras entidades que constituem a tua mente.

- Isto parece-me mais um produto resultante de todas as drogas que consumi na década passada.

- Pensa o que quiseres. O importante é que fiques do nosso lado, que o teu consciente fique sempre do lado do pensamento livre e nunca te passes para o outro lado. Podemos contar contigo, soldado?

- Yessir!!! Defenderei o pensamento livre com toda a minha sanidade mental!

11 comentários:

Canuca disse...

A minha cabeça por vezes parece uma verdadeira batalha campal lol...onde o meu "Eu" consciente acaba sempre por ganhar, é o que dá pensar demais lol ;).

Anónimo disse...

"Isto parece-me mais um produto resultante de todas as drogas que consumi na década passada."

rz...u rule so much lol

Anónimo disse...

id / ego / super-ego :)

(outra velha máxima, não se sabe com quanta razoabilidade é: discordo do que dizes mas defenderei atá à morte o direito do teu dizer - este parêntesis foi unicamente a propósito da última frase)

bom fim-de-semana, senão antes

anjoazul disse...

primeira é freud
segunda é voltaire

...

posso chamar praqui o iceberg, já agora?

Anónimo disse...

anjoazul,

fico contente por si (sem ironias) que tenha identificado

mas anatcat só estava a comentar o texto e levianamente

por mim (anatcat) anjoazul pode tudo, inclusive conversar comigo directamente, pois até me parece que temos algumas afinidades

pronto, agora os donos deste espaço vão expulsar-me, mas eu compreendo :)

anjoazul disse...

oh ana...claro que sim
e não tava a ser irónica...really

Rodovalho Zargalheiro disse...

A Tertúlia dos Néscios apresenta-se também como um espaço de debate livre onde todas as intervenções são bem-vindas. Não são é necessariamente valorizadas ;)

Aqui não se expulsa nem censura ninguém, mesmo que regurgite as maiores alarvidades (como até foi já comprovado por um tal de izzi :)

Estou de facto facundo hoje... (não confundir com fecundo)

Anónimo disse...

:)

anjoazul :)

fiquei contente (por mim)

podes tratar-me por ana... assim como assim já não é novidade para ninguém

também fiquei contente por não ser expulsa :)

do valorizar quem e onde quer que fosse, tinhamos (não me estou a referir a este pequeno círculo em tertúlia) muita prosa a debater

vou-me daqui com um sorriso sincero

tiagugrilu disse...

Muito bom. Se fosse dono de uma editora contratava-te, embora não te pagasse depois com desculpas de"ah e tal, sabe, isto está mau..."

Mas contratar, contratava.

Rodovalho Zargalheiro disse...

Thanks! E eu era capaz de ser suficientemente otário para aceitar :)

tiagugrilu disse...

Óptimo! Começas na segunda-feira.