quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Manuel Alegre

Por acaso andava para escrever um post sobre o Manuel Alegre, entretanto recebi este texto do Manuel Monteiro que, algo desconcertantemente para mim, devo dizê-lo, se aproxima bastante do que eu queria dizer, portanto olha, menos trabalho para mim.

VOLTAR A SONHAR
Por Manuel Monteiro

«Sejamos realistas exijamos o impossível»
Depois pode vir o exército a polícia as forças todas do número e da norma podem cercar-nos por todos os lados, intimar-nos com fogo
ou pior ainda: horários disciplina regras e obrigações.
Manuel Alegre, Che

Lê-se na Bíblia, no livro do Apocalipse: “Sede frios ou sede quentes porque eu vomitarei os mornos”. Não gosto de políticos titubeantes. Não gosto de políticos que nunca ousaram algo na antítese do politicamente correcto. Que nunca ousaram o impossível. Não gosto de políticos que acham que não há diferenças entre a esquerda e a direita.
A coragem e a insubmissão de Manuel Alegre temperadas com a dose cavalar do seu espírito democrático e do seu amor à liberdade devolvem-me um brilhozinho nos olhos para o combate político.
Manuel Alegre, deputado recordista do número de vezes que ousou votar contra o seu próprio partido, tem sido um olhar permanentemente vigilante da liberdade e da democracia, elevando a sua voz de barítono sempre que necessário.
Ao contrário de outros, esteve sempre do lado da democracia e da liberdade, contra as censuras azuis e vermelhas, contra os despotismos de direita e de esquerda.
Ao contrário de outros, não se limitou a ser uma mera oposição, uma mera voz de protesto, participando também na esfera do poder para construir algo positivo.
Gosto de ver que ainda há quem acredite que a junção das palavras “político” e “sério” não constitui um oxímoro e que a política ainda pode ser a arte de mudar o mundo para melhor. Gosto de ver que ainda há quem lute pelo sonho de uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna mesmo nas condições mais adversas. Mesmo sem o dinheiro e sem os caciquismos dos aparelhos partidários. Porque é bonito ver tanta gente a voltar a lutar por ideais.
Seria bonito ter um Presidente da República-Poeta cuja alma não dança apenas com números e que ainda por cima quer pôr as pessoas a aprender a lei suprema do país – a Constituição - nas escolas; que almeja combater a iliteracia; e que propõe ao país um modelo de desenvolvimento cujo alavancamento não sejam os baixos salários mas a aposta no capital intelectual.
Estou cansado, mental e fisicamente exausto de tanto ouvir o discurso gasto e bafiento de que primeiro precisamos de crescer para depois distribuir. Porque é que nunca em país algum, fosse qual fosse o seu patamar de crescimento, se admitiu em determinada altura que se poderia (finalmente!) redistribuir?!...
Hoje como ontem, aqui em Portugal como no resto da Europa, é sempre altura de nos preocuparmos com o crescimento económico, descurando as desigualdades. Sempre, sempre, sempre. Não nos iludamos: por mais que cresçamos nunca ouviremos dizer que agora é altura de nos preocuparmos com a pobreza e a miséria. E é por isso que as desigualdades e a exclusão social vão grassando. E é por isso que me agradou tanto ouvir o Manuel Alegre dizer que “A melhor distribuição da riqueza é uma pré-condição para o desenvolvimento”.
Oscar Wilde escreveu que um mapa que não contemplasse a Utopia não seria digno de um só olhar. Sonho com um Portugal de todos. Imagino-o com toda a força e intensidade. E nele vejo Manuel Alegre a Presidente.

2 comentários:

AP disse...

Uma pessoa que defende a diferença de ideais entre a direita e a esquerda, ainda por cima assumindo-se como sendo de direita, não pode ter um discurso destes! Apesar de bem escrito, soa demasiado a populismo e a auto promoção. Ao mesmo tempo não é surpreendente, é até normal uma atitude destas por parte deste senhor. Se não fossem estas incongruencias, já ninguem se lembrava dele. Só faltava agora, que um lider de um partido de direita fizesse declarações semelhantes, e fosse depois disso escolhido para integrar um governo de esquerda!

Rodovalho Zargalheiro disse...

O importante é a mensagem, não o mensageiro.